terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Racionamento de vida


Nunca se falou tanto em racionamento quanto nos últimos dez ou vinte anos. Nos aconselham a utilizar de forma racional muita coisa que antes tínhamos em fartura para que as próximas gerações também possam usufruir dos recursos. Água, energia, alimentos, petróleo e outros recursos naturais hoje nos dão uma noção de finitude: nada é para sempre. Mas devemos ter em mente que racionar não significa economizar, mas usar de forma consciente. 

Tem muita gente economizando vida. 

Mal nascemos e nossos pais já dizem: quando crescer vai ser doutor. Querem adiantar nossos primeiros passos, as primeiras palavras, o primeiro quebra cabeças e uma gama de outras coisas que só visam quais serão nossas capacidades cognitivas no futuro. A grande verdade é que, dos 0 aos 17 anos, a criança é preparada para o vestibular. Ela passa, mas, e agora?

Faculdades são fábricas de sonhos perfeitos. Todo ano formam milhares de médicos, advogados, engenheiros que investem grana e esperança numa profissão que o indivíduo deve seguir para o resto da vida. Enquanto estudam, pensam na formatura. Enquanto se formam, pensam no mercado de trabalho. Enquanto trabalham, pensam na estabilidade. Enquanto se estabilizam, pensam na aposentadoria. Só quando se aposentam, pensam em viver, mas aí o corpo já não consegue acompanhar os desejos da mente. 

Num caminho totalmente oposto ao dos recursos naturais, quanto mais vivemos, mais vida temos. Não perca uma viagem de férias com os amigos só pensando em economizar para comprar seu carro, oportunidades de compra aparecem todos os dias, oportunidades de viver momentos, não. O grande amor da sua vida, como retratam nos filmes, pode nunca aparecer. Construa bases sólidas com quem você se sente bem e enxergam um mesmo futuro. Caminhe na chuva, pare uns instantes para apreciar um pôr do sol, seja gentil com as pessoas. 

Saiba diferenciar FELICIDADE de REALIZAÇÕES. Conseguir um excelente emprego ou comprar seu apartamento são grandes realizações que podem ou não lhe trazer felicidade. Ser feliz está na forma como você usa as ferramentas que possui. 

A virada do ano é um novo ciclo somente para calendários e atividades burocráticas. Não preciso do Primeiro de Janeiro para começar uma nova vida, uma nova dieta, uma nova atitude. Mas pelo poder de motivação que um ano novinho nos traz, meu desejo é que em 2014 a gente não economize vida, não desperdice momentos e não racione amor. Que o próximo ano o recurso natural Vida seja inesgotável e acessível a todos. 

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

E se eu fosse eu?


O título deste texto não é meu, embora gostaria que fosse. Faz parte do texto do espetáculo Prazer, da companhia de teatro Luna Lunera, aqui de Belo Horizonte. Ultrapassando os limites do clichê, esta foi uma peça em que todos os elementos possíveis conspiravam para que eu não assistisse. Dor de cabeça, chuva, congestionamentos inexplicáveis e uma série de outros fatores me levavam contra o convite de uma grande amiga, mas fui. E tive a sensação de que  estava justamente onde deveria estar.

Prazer conta a história de quatro amigos que se reencontram em algum lugar do estrangeiro após anos de distância. Entre bebidas, sorrisos, presentes e histórias, eles começam a questionar os rumos que suas vidas tomaram e, de uma forma extremamente bem amarrada, o texto coloca o espectador em xeque o tempo todo. Entre eles está o título desta crônica: e se eu fosse eu? O que faria? 

Pela primeira vez em muito tempo ouvi uma pergunta que me deixou sem resposta nem palpite. Não sei. Desde a consciência da minha existência tenho sido exemplo, seguido regras e feito tudo como manda o script. Mas quem escreveu esse texto? Quem ditou o que eu deveria ter feito até aqui? Quem limitou a minha participação no mundo a uma trajetória prevista, óbvia, estática? Eu que não fui.

Se eu fosse eu, seria alguém mais livre de convenções e seria educado apenas por reciprocidade. "Legal comigo, legal contigo". Se eu fosse eu não descansaria enquanto não encontrasse um ofício que me desse realmente prazer para que trabalhar parecesse hobby e eu conseguisse total prazer nisso. Se eu fosse eu, saberia que a hora de começar é a hora que eu sinto vontade - mesmo não estando preparado -, e que a hora de parar é a hora que eu achar que não vale mais a pena persistir. 

Se eu fosse eu, de verdade, não teria metade dos amigos que tenho, pois seria necessário o dobro de paciência para me aguentar. Se eu fosse eu, moraria em Roma, Praga, Curitiba ou Dubai e seria extremamente feliz por estar ao invés de pertencer, pois esta é uma verdade quase que incontestável. Se eu fosse eu, amaria sem limites e declararia meus sentimentos sem medo de rejeição ou vergonha do escândalo.

Mas eu não sou eu, você não é você, e por mais desprendido das convenções que possamos ser, ainda seguimos o script da rebeldia, pois até quem vai contra a maré ruma para algum sentido. Esta é a nossa condição, o que não significa que não podemos às vezes sair um pouco do roteiro, criar nossa própria história e compor o personagem "eu" de forma primorosa, como escritor nenhum faria. 

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013



Quanto mais nos aproximamos da tão criticada Copa do Mundo de 2014, que será sediada em nosso país, mais nos deparamos com nossas dificuldades para receber um evento deste porte. Para os novos revolucionários - pois os cara-pintadas só querem um sofá, cerveja gelada e que essa juventude cale a boca - a pauta é sempre a mesma: falta estrutura. Falta transporte público de qualidade, faltam hospitais decentes, faltam investimentos em vias públicas e uma série de reinvindicações que não cabe a mim dizer. Pedidos legítimos, já que estamos longe de alcançar os índices dos países de primeiro mundo, mas a estrutura que está realmente defasada em nosso país são as pessoas. 

Ontem, a partida decisiva entre Atlético Paranaense e Vasco pelo Campeonato Brasileiro foi interrompida por conta de uma selvageria sem igual entre as torcidas. O país ficou estarrecido com tamanha violência que levou quatro torcedores presos e três hospitalizados em estado grave. O mesmo aconteceu na festa de comemoração da vitória do Cruzeiro, só que desta vez foi mais imcompreensível: integrantes da mesma torcida se degladiando em praça pública, fazendo cancelar a festa que iria acontecer próximo ao estádio do Mineirão.

Dois exemplos entre vários que poderia citar para mostrar que a principal matéria prima de um país são as pessoas e são suas atitudes que mostram o quão desenvolvido é o local. E os telejornais insistem em classificar os agressores como vândalos e marginais, mas nunca como torcedores. Ele é vândalo, mas antes disso é torcedor, sim. O motivo que o levou à violência foi a paixão pelo time. Enquanto a gente continuar jogando a responsabilidade para o outro, tanto no governo quanto em nossas relações pessoais, a realidade só tende a piorar. 

O Brasil é um país lindo e nosso povo é sem igual, porém o mesmo povo não vende a imagem do país que a gente quer. Todo bom comerciante sabe que para vender o produto é preciso enfatizar nas qualidades, mas nós vendemos um Brasil com defeitos. Mas é uma atitude inteligente, pois é mais fácil criticar do que promover mudança. Demos o nosso tão famoso jeitinho brasileiro.

De nada adianta eu clamar nas ruas por educação se uso da "colinha" em prova; não tenho o direito de protestar contra a corrupção se uso de meios ilícitos para tirar quaisquer vantagens; que moral eu tenho para pedir um novo país o qual não estou preparado para receber?

domingo, 10 de novembro de 2013

Valor sentimental


Sou o pior tipo de nostálgico: aquele que agrega valor sentimental à tudo. E quando digo tudo me refiro desde peça de roupa, passando por bilhetes de passagem aérea e até tampa de caneta mordida. Acredito que se tal objeto fez parte da minha história, merece um lugar no campo dos meus afetos e, por quê não no meu quarto? É tanta quinquilharia que qualquer um que possua um mínimo senso de organização teria coceiras só de olhar para minhas gavetas.

Vez em quando recebo uma entidade organizativa que me faz revirar gavetas e armários em busca de algo que já não me é necessário. O mais impressionante é que, quando não é mais necessário, eu promovo a importância do objeto pelo valor sentimental. São cartas trocadas com amigos que moram em outra cidade, lembranças que me trouxeram do exterior, pulseiras, livros, discos e até mesmo anotações em post-it: tudo tem uma história e um porque de estar ali. 

E são nesses devaneios organizatórios que procuro praticar o desapego. Entender que muitas vezes a memória é mais que o suficiente para registrar um momento e torná-lo especial. De nada adianta fotos e objetos se nada preenche a prateleira da memória. Hoje faço viagens e a coisa que menos me preocupa é registrar o fato em imagem, pois por maior que seja a qualidade da imagem, fotografias não registram sabores, cheiros e sensações que só são experimentadas por quem viveu. Se quero mostrar aos outros como minha viagem ao nordeste foi maravilhosa, basta que eles vejam meu bronzeado quando chegar. O resto não lhes diz respeito.

De tudo, o que fica é a memória e a necessidade de compreender que poucas - muito poucas - coisas possuem valor sentimental a ponto de serem guardadas. Uma joia de família, por exemplo, merece. Do resto cabe apenas ao meu cérebro registrar ou não tal informação. E quanto aos outros, eles que tenham suas próprias memórias. 

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Sem hora



Brincadeira tem hora.
Consulta ao médico tem hora.
Reunião tem hora.
Jogo de futebol tem hora.
Batizado tem hora.
Viagem marcada tem hora.
Audiência com um juiz tem hora.

Essas e uma série de outras coisas precisam e horários marcados para que aconteçam. Protocolos sociais que seguimos para uma convivência mais harmônica e para que programemos nossas agendas sem prejudicar ao outro. Acordo de cavalheiros, mas que às vezes tornam nossas vidas burocráticas demais. Um atraso qualquer, já era.

Mas também existem coisas que não carecem da mínima cerimônia para que aconteçam. Essas, que não são programadas, nos tiram da rotina, deixam os dias mais leves e é sempre por elas que temos alguma história para contar. Ninguém se interessa por mais do mesmo: a gente vive de ineditismos.

Um exemplo. Há famílias que, por tradição, seguem religiosamente uma rotina semanal: a visita à casa dos avós, sempre aos domingos. Família reunida, comida farta, muita conversa e às vezes até uns arranca rabos, já que nem toda família vive em comercial de margarina. Nada impede que essa visita aconteça em outro dia da semana, mas, como o domingo é sagrado, esperam-se todos ansiosamente. Até que, sem motivos, um dos filhos decide visitá-los em plena quinta feira, trazendo vinho, petiscos e mimos para os avós. Ponto pra os filhos.

Todo mundo gosta de pequenos agrados, todo mundo gosta de ser lembrado, todo mundo gosta de perceber que faz a diferença na vida de alguém. Um carinho nos cabelos da esposa antes de dormir faz toda a diferença, se o marido for daqueles que não sabem demonstrar afeto. Um elogio ao funcionário que cumpre bem suas tarefas levanta o ego de qualquer profissional, mesmo que no dia ele não tenha feito nada de grandioso. Passar numa loja de discos e comprar um álbum da banda que seu irmão tanto gosta pelo simples fato que se lembrou dele reforça ainda mais os laços de sangue.


É impossível lutar contra o relógio e os compromissos: eles acontecerão de uma forma ou de outra. Mas são tão ordinários e previsíveis que não merecem nosso olhar aguçado, não nos vibram o coração e muito menos merecem páginas em nosso diário. O que realmente vale a pena são as coisas que não tem hora pra acontecer. 

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Cuidado

Dentre as milhares de palavras que compõem nosso alfabeto, algumas demandam mais atenção. Bastam ser mencionadas que todos ficam alerta, com músculos rígidos e movimentos precisos. Tensão. Mas as mesmas palavras, quando ditas em outro contexto, denotam carinho e extrema atenção com algo ou alguém com quem temos afeto. Uma delas, em especial, ouvimos e dizemos em todas as fases da vida como forma de proteção: cuidado.

Desde que nascemos, somos cercados de cuidados. Médicos e enfermeiras preparados para nossa estreia no mundo, tios ansiosos, avós apreensivos, pai à beira de um ataque de nervos, até que a gente chega e é mimo pra tudo quanto é lado. Banhos na temperatura certa, mantas, cobertores, cuidados com o umbigo e com ambientes frios são apenas alguns dos cuidados que temos em nossos primeiros meses aqui.

Crianças demandam outro tipo de cuidado, os físicos. Avisos e broncas nos advertindo dos perigos e, mesmo assim, a gente machuca, rala o joelho, corta a testa, quebra o pé... “Quem não escuta cuidado, escuta coitado”, frase que pesa como uma bigorna em nossa consciência. Adolescentes já não se machucam tanto, mas os cuidados agora são com perigos do mundo. É uma fase de descoberta e que não estamos devidamente preparados para o que vamos enfrentar, embora tenhamos a plena certeza da nossa auto-suficiência. Idosos viram crianças e demandam atenções parecidas. Cuidados para não cair, ao se levantar da cama, ao pisar no chão molhado, ao sair sem agasalho nos dias frios. São parecidos, embora o processo de recuperação não seja tão rápido quanto antigamente.

Adultos são os que parecem que menos precisam de cuidado, mas é onde mora o erro. Focamos tanto nos mais vulneráveis fisicamente que nos esquecemos de cuidar do principal pilar que nos sustenta: quem somos. Adultos estão no auge de suas vidas. Possuem objetivos de curto, médio e longo prazo, trabalho, família, amigos, obrigações consigo mesmo e com o governo, e uma infinidade de outras responsabilidades. Projetam-se no futuro, são nostálgicos lembrando-se do passado e se esquecem do poder do agora.

“Adultos não têm tempo pra cuidar de si”, pensam. E, de certa forma, estão certos. Se não temos o instinto de cuidar somente de nós mesmos, então que cuidemos também de outros adultos. É aí que surgem os laços de amor, tão importantes para nossa convivência. Quem ama cuida e é por isso que nos atentamos tanto às crianças e idosos. Alguns mais cuidadosos, outros menos, cada um dá o que pode e acha que deve. Mas se recebo o cuidado de alguém, por que não retribuir?


Posso optar por relações efêmeras, na qual cuido de mim e o outro que se dane, não serei a pior pessoa do mundo por isso. Mas, no fim, qual vai ser minha recompensa? Adultos não perdem tempo, plantam agora para colher lá na frente, sabem que toda escolha tem um preço e que este seja o menor possível. Na natureza isso tem nome: mutualismo. Como bons mamíferos que somos, que possamos aprender com nossos semelhantes.

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Intervenções

Elas estão por toda parte: nas ruas, empresas, comércios e também nas relações. Diariamente somos surpreendidos por intervenções das mais variadas naturezas que nos obrigam a mudar nosso percurso e tomar um caminho diferente, muitas vezes desconhecido. Basta uma divergência, uma desarmonia ou um simples embate de idéias que logo chega alguém propondo uma mudança do acordo anterior.

Quem mora em cidade grande diariamente lida com as intervenções do trânsito. É alteração de circulação em ruas, implantação de semáforo em cruzamentos, rotatórias, lombadas e as infindas obras, tudo em prol do progresso. Acostumar-se a elas demanda tempo. Nos primeiros dias são erros, engarrafamentos e até alguns acidentes que, com o tempo, vão diminuindo. É a dinâmica das cidades: mudar para evoluir.

No universo corporativo as mudanças são constantes e quase sempre mal vistas pelos colaboradores. Circulares causam calafrios e memorandos deixam todos de orelha em pé. Mesmo antes de saber do que se trata, ouvem-se cochichos de “lá vem”, “de novo?” e até mesmo “ferrou, galera. Muito prazer e até qualquer dia”. Mas é vital pra qualquer instituição que queira manter-se de pé, pois o mercado muda, a legislação muda e são necessárias adaptações para que a empresa funcione de forma saudável para todos.

Intervenções de trânsito e no trabalho qualquer um tira de letra, já que está subentendido que é para o bem coletivo. Difícil mesmo é quando elas vêm no âmbito pessoal, em que quase sempre uma parte sai prejudicada e envolve sentimentos. A briga com um amigo de infância soa como se arrancassem parte do nosso passado. Raros são os divórcios em que o coração de um não sai sangrando. Mas a pior de todas é irreversível: quando a morte nos leva alguém que a gente aprendeu a amar.

Mudanças assim podem não ser imediatas. Levam tempo, dedicação e um esforço quase desumano para seguir em frente. Cada um enfrenta de um jeito e nenhum deles parece correto. Uns ocupam a cabeça para não lembrar, outros sofrem até a dor passar e há também os que lotam os consultórios psicológicos a fim de encontrar uma saída racional e indolor para o que está sentido. Não há.


Mas não importa de onde vêm as intervenções, a gente sempre segue em frente, independente do caminho. Desvios, mudanças e terapias são escolhas que tomamos todos os dias. Podem mudar o percurso, mas também podem mostrar novas e melhores maneiras de seguir em frente, mas, parar, nunca.

terça-feira, 3 de setembro de 2013

De que o acaso me protege?

Dia desses liguei meu iPod no shuffle, como de costume, e em um dos raros momentos em que não estou pensando em nada, tocou Epitáfio, dos Titãs. Lembro que na época em que foi lançada ela tocava incessantemente nas rádios, a ponto de me fazer enjoar em poucos dias, antes mesmo de entender sua mensagem. O grande problema das músicas massificadas é que repetimos tão automaticamente que sequer paramos para pensar e apreciar os arranjos, detalhes e letras.

 “O acaso vai me proteger enquanto eu andar distraído”, diz o refrão. Mas, peraí: de quê o acaso me protege? O que parece tão simples é de uma ambiguidade que me atormenta. Os mais simplistas responderão que ele não protege, apenas condiciona nossas ações para o que é mais concreto. Bullshit. Acredito, sim, na força do acaso e das circunstâncias que ele traz.

O acaso pode nos proteger do mal. Não é de hoje que circulam na internet relatos de pessoas que, por qualquer motivo, não embarcaram em um voo cuja aeronave cairia, horas depois. Telejornais entrevistam todos os anos pessoas que escaparam ilesas de grandes catástrofes por uma simples diarreia ou dor de cabeça. Acontece. Olha aí o acaso sendo um paizão e salvando a vida de inúmeras pessoas.

Mas o acaso também pode te proteger do bem. Li relatos de pessoas que viveram anos separados das pessoas que amavam por questões familiares. Fora as histórias que ainda não tiveram seu final feliz. Culpa do acaso. Você, que está solteiro, pode ter esbarrado com o homem ou a mulher da sua vida na fila do banco e nem percebeu. Você, pai, pode ter perdido a apresentação de fim de ano do seu filho na escola porque ficou até mais tarde no trabalho. Neste caso, o acaso afasta.


Cada caso, um acaso. E não cabe a nós compreender ou tentar mudar o que o acaso nos traz. A gente deve mesmo é reconhecer quando ele está ao nosso favor e, quando não estiver, paciência. Infelizmente a vida não tem manual de instruções e foi por acaso que dei mais um nó na minha cabeça. Continuo sem entender nada.

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Ela


Parece pegadinha, mas é verdade: você a encontrou. A mulher pela qual muitos homens jogariam flores no chão que ela passasse. Logo você, um cara cético nas questões do amor e conhecido pelos amigos como o “solteirão convicto”. A comunidade dos sortudos lhe aceitou como membro efetivo. Toma aqui sua carteirinha, use-a de forma consciente e boa sorte. Esta mulher apareceu em sua porta e você abriu, perguntou se tinha um lugar no seu mundo para ela e você disse o seu sim.

Não é necessariamente bonita, mas seu alto astral contagia todos à sua volta. Pode nunca aparecer em capa de revista de moda, não faz o tipo esquelética e muito menos gordinha, mas cabe exatamente no seu abraço. É comunicativa e tem tantas amizades que fica até difícil administrá-las sem que magoe alguns amigos pela ausência. É solícita e se preocupa com você mesmo que você não saiba. Segundo ela, seus signos não combinam, mas o que realmente vale são as regras ditadas pelo casal e não as de um astrólogo que nunca viu mais gordo.

Não é nem tão nova que cometa as inconseqüências da juventude nem tão velha que fique extremamente ranzinza. Está numa idade que já sabe o que quer, é parcialmente independente e batalha para alcançar seus objetivos. Viveu o suficiente pra saber que ninguém é perfeito e que todo relacionamento exige dedicação e paciência, coisas que ela tem de sobra com você. Te chama pra sair, quer que você seja amigo dos amigos dela, faz planos secretos de curto, médio e longo prazo para o casal – embora você nunca saiba da existência deles.

E você, rapaz, o que tem feito por ela? Homens costumam ser nada românticos por natureza, mas quando se trata de outro ser – e este ser sendo uma mulher – é de bom tom fazer um esforço e ser gentil. Não para recompensá-la, pois namoro não é relação de troca, mas para que ela esboce aquele sorriso que você tanto gosta e quiçá caia uma lágrima dos seus olhos, que serão prontamente enxugadas para que ela não fique com vergonha. Pode não parecer, mas ela é tímida.

Um conselho: NUNCA a considere “boa demais” pra você. Ninguém é bom demais para alguém. Ninguém é muita areia para o caminhão de alguém. Ninguém recusa uma promoção no trabalho por considerar as especificações do cargo “boas demais”. Se ela está com você é porque quer e, no dia que não mais quiser, ela simplesmente lhe será franca.


Respeite-a. Valorize-a. Seja presente. Ela é do tipo de mulher que poucos dão o devido valor por achar que não merecem, mas que, depois se arrependem e a querem de volta, mas tarde demais. Galgue degraus de importância em seu coração fazendo por merecer. Você encontrou o cartão dourado em uma barra de chocolates Wonka. Use com consciência e você a terá por um bom tempo.


domingo, 11 de agosto de 2013

Dez minutos de silêncio



Todos precisamos de dez minutos de silêncio. Silêncio para organizar. Silêncio para raciocinar.
Silêncio para não precipitar. Silêncio para relaxar.
Silêncio para não gritar.

Todo mundo precisa de silêncio, às vezes. Pessoas se tornam inconsequentes quando falam em demasia quando deveriam calar-se. Palavras não dão espaço aos pensamentos. Arrependimentos quase sempre são frutos de atos impensados, não raciocinados, não disciplinados. 

Silêncio é disciplina.

O calor dos acontecimentos pode nos dar uma falsa sensação de decisão acertada. Posso amar alguém e, num súbito momento de raiva ou tristeza, achar que não o amo por motivos frívolos. Meus motivos frívolos. Dez minutos de silêncio são altamente recomendados nestes momentos. 

Acontece muito. Você pega um fato desconexo aqui, junta com uma reação inesperada ali, um cenário que justifique toda a ação e pronto. Você vira autor de novela mexicana. A sua novela mexicana. Acontece que nem tudo gira em torno de você e suas expectativas. Existem muito mais elementos na trama principal da novela da vida que você desconhece. Dez minutos de silêncio farão você entender melhor.

Cenas de ciúmes entre namorados, discussões fúteis entre amigos, brigas com familiares, entraves no campo profissional. Tudo isso poderia nem acontecer se usássemos de dez minutos de silêncio. Já pensou em quantas situações desagradáveis poderiam ser evitadas se todas as palavras viessem após dez minutos de silêncio? Ao invés de “não quero mais te ver”, tente “me dê dez minutos que depois a gente conversa”. Ao invés de “eu te confiei minha amizade em vão”, tente “me dê um tempo e, depois, me explique seus motivos”. Ao invés de “desejaria não ter nascido nesta família”, tente “vamos parar a discussão por hoje e conversar quando nos acalmarmos?”.

Dez minutos de silêncio é uma regrinha de relacionamento consigo mesmo e com os outros. Eu, você e todos nós precisamos deste tempo. Tenha o seu e respeite o do outro. E, caso não respeitem seu tempo, pare, tenha dez minutos de silêncio, 1... 2... 3... e aja.


quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Hiatos


Para os afoitos, um martírio. Para os prudentes, um alívio mais que necessário. A verdade é que todos nós passamos ou iremos passar por um período de hiato, seja ele qual for. Uma pausa, uma quebra no tempo, um momento que nem sempre foi desejado, mas vem a calhar quando precisamos traçar metas e nortear nossos objetivos.

Em gramática, hiato é a separação silábica de duas vogais em contato. Pertencem a uma só palavra, mas ainda sim há um espaço entre elas; um fôlego para uma pronúncia correta, mas sem alterar seu objetivo final. Após um hiato, sempre vem outra sílaba que completa e fecha o ciclo.

Hiatos também são comuns no meio artístico, em que atores, cantores, escritores se recolhem e descansam sua imagem com o objetivo de criar e inovar. Então por que nós, artistas ou não, não fazemos o mesmo? O tempo corre, a rotina sufoca e, se você parar, o mundo te engole? Acredito justamente no contrário. O mundo não devora ninguém, ele é até muito paciente com nossos erros. As circunstâncias, sim, engolem quem não para pra pensar ou não pensa em parar.

Há vários exemplos de grandes nomes do esporte, da música ou do mundo dos negócios que foram mal sucedidos no passado e hoje são exemplos de superação. O que muita gente não sabe é que a maior parte do processo de transformação começa nas coisas mais simples e, entre elas, está o pensar. Ao traçar metas, precisamos definir duas coisas: objetivos e limites.

Onde quero chegar? Se a resposta vier fácil, considere-se um privilegiado. A esmagadora maioria dos mortais não sabe sequer o que fará no fim do dia, quiçá no fim da vida. Focar em coisas mais simples e alcançáveis é um bom começo. Tudo isso começa em saber-se capaz das pequenas coisas. É ter consciência de onde posso chegar com os talentos que tenho e isso é tarefa árdua para os modestos. Pessimistas também não lidam bem com hiatos.


Na gramática ou na vida, usem dos hiatos. Quais são minhas limitações? Se temos duas certezas na vida, essas duas são: morte e limites. Nenhum habitante deste planeta é imortal ou onipotente. Sei onde quero chegar, mas sabendo das minhas limitações fica mais fácil traçar estratégias de sucesso. Sei até onde posso ou não posso ir com minhas virtudes e defeitos e isso não é modéstia, é realidade.

sexta-feira, 26 de julho de 2013

Antes que termine o dia

   Nunca me apeteceram as críticas de cinema, somente as da vida. Mas hoje vou usar da sétima arte para tentar entender um pouco dos laços que nos mantém vivos. Anos atrás me deram ótimas recomendações sobre o romance Antes que termine o dia. Logo que ouvi a palavra romance, torci o nariz. Nunca fui lá muito fã de histórias que passam longe do que acontecem no nosso dia a dia, mas nos dão a ilusão de que um dia possa acontecer. Pra mim, filmes tinham que mostrar uma realidade completamente surreal ou algo que realmente possa acontecer. Peguei meu copo de intolerância, um balde cheio de preconceitos e apertei o play.

O filme conta a história de um casal que vive em Londres. Samantha é uma musicista recém-formada e romântica; Ian, um geneticista conceituado e workaholic. Ela faz planos de vida; ele, de trabalho. Ela sente; ele pensa. O filme relata um dia inteiro do casal – dia também da formatura de Samantha –, até que no fim, o casal tem uma discussão e ela morre em um acidente de trânsito. O filme não deixa claro se por uma premonição ou uma segunda chance da vida, Ian acorda no outro dia e encontra Samantha ao seu lado. Assustado, percebe que tudo que aconteceu no dia da morte de Samantha está acontecendo novamente, só que de forma diferente. Percebendo isso, tenta fazer daquele dia o melhor da vida deles. Resultado: posso rever o filme 30 vezes, 30 vezes chorarei.

Passando da arte para a vida, o filme me fez pensar sobre nossas fragilidades e a imprevisibilidade do futuro.  Será que estou realmente vivendo cada dia de forma a não me arrepender caso seja hoje meu último dia na Terra? Quais as minhas prioridades? Será que realmente é preciso perder para dar o devido valor? Fiz uma auto avaliação e cheguei à seguinte conclusão:

Antes que termine o dia vou me dedicar ao máximo ao meu trabalho, enquanto estiver nele. Não importa se meu ofício atual seja o que eu sempre sonhei, mas farei o melhor que estiver ao meu alcance no momento. Serei cordial com meus colegas, paciente com meus clientes e sereno com meu chefe.

Antes que termine o dia direi aos meus pais e familiares o quanto os amo. Farei o que for possível para estreitar ainda mais os laços de sangue que nos unem. Serei honesto com todos, mas principalmente com aqueles que fazem parte da minha rotina diária. Serei verdadeiro e sempre os deixarei com um bom dia carinhoso ao ir para o trabalho ou lazer.

Antes que termine o dia serei o melhor namorado que consiga ser. Ficarei atento às necessidades do meu companheiro, serei paciente quando for preciso e deixarei de pensar só em mim. Serei carinhoso e darei o devido valor para que, ao contrário de Ian, o remorso não me corroa.

Antes que termine o dia serei melhor comigo mesmo, pois sei que o tempo só será generoso comigo se eu mesmo o for. Cuidarei do meu corpo para prevenir enfermidades. Cuidarei da minha mente para que não seja só um corpo vazio. Cuidarei da minha alma para que haja equilíbrio interno.


Meu maior desejo é que, antes que terminem os dias, meus dias não sejam em vão.

"The only thing you can control is your own choices"

terça-feira, 16 de julho de 2013

Amadorismos


Certa vez vi uma entrevista que Clarice Lispector concedeu na década de 70 em que dizia sobre seus hiatos criativos, explicando o porquê de passar tempos sem produzir textos e outros onde escrevia com voracidade. Sempre séria, foi categórica: Eu não sou profissional, só escrevo quando quero. Sempre fui amadora e faço questão de  continuar sendo amadora. Duas frases que caíram como uma bigorna na minha cabeça.

O mercado está ávido de bons profissionais. Anúncios de jornais, comerciais de universidades, cursos e workshops esfregam na sua cara que não basta ser apenas bom no que faz: você precisa ser o melhor. Enxertam na cabeça dos jovens uma série de fórmulas e teorias como fórmula do sucesso, criando a ilusão da realização plena por meio delas. De certo, não me refiro às ciências exatas e médicas. São anos de pesquisas para se chegar a um resultado. Mas em todas as outras, é mais que necessário que sejamos amadores.

Na etimologia da palavra, amador faz com amor. E todo amor vem repleto de dedicação e boa vontade, que são, para mim, a verdadeira fórmula do sucesso. Quer ser bem sucedido em qualquer área da vida? Use da dedicação e boa vontade. Verdadeiras amizades pedem, relacionamentos duradouros exigem e auto realização clama para que sejamos amadores. Sem obrigações excessivas, sem muitas cobranças, sem martírios, apenas fazendo com amor e responsabilidade.

Ao contrário dos bons profissionais, que começam cedo, os amadores não têm idade pra começar. Pode ser aos 15, aos 25 ou até mesmo aos 70, qualquer um é amador em alguma coisa, só falta investimento de tempo, dedicação e boa vontade. E não precisa ser o melhor desde sempre: amadores vão se lapidando com o tempo, assim como Clarice.


Confesso que ainda preciso de mais abstração para absorver a profundidade da obra de Clarice, mas apenas vendo esta entrevista percebi que ela não só nos choca com o explícito, mas nos faz refletir com o implícito. Amadoramente profissional, ela nos ensina através do próprio exemplo que realização pouco tem a ver com as técnicas que você aprendeu, mas sim o amor com o qual você as aperfeiçoou. 

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Não me venham com a fábula do jardim



A cada desilusão amorosa a história é quase sempre a mesma: cuide bem do seu jardim para que as borboletas venham até você. Por melhores que sejam as intenções dos amigos, esse papo já não cola mais. Pode até funcionar com uma adolescente que inicia sua vida sentimental e ainda tem muito a aprender sobre as decepções da vida, mas comigo, não.

Cuidei até demais do meu jardim e, modestamente, ele está lindo. Podei os traumas, reguei esperanças, arranquei as ervas daninhas das mágoas, capinei o canteiro das qualidades para que ficassem bem visíveis para quem visitasse minha flora. Sei que ainda há muito trabalho pela frente, mas qualquer pessoa com o mínimo de sensibilidade que chegar irá parabenizar pelo belíssimo trabalho que fiz.

Meu jardim é vasto e vêm sendo cuidado desde que me considero importante na vida de alguém, e isso faz muito tempo. Foi preciso empenho, disciplina e muita paciência para esta obra da qual tanto me orgulho e, hoje, as placas de não pise na grama estão por todos os lados. Talhadas por mim nos mais rigorosos invernos, são lembretes bem visíveis para que os visitantes respeitem os caminhos onde pisam.

Tenho um orgulho danado dos meus canteiros e tenho a consciência de quão felizardos são aqueles que deixo entrar. E são poucos. Embora o terreno seja meu e o trabalho fique por minha conta, deixo que visitantes tragam sementes e plantem nesta terra boa. Contanto que haja harmonia com o que já está feito, sou bem permissivo e pouco ciumento com minhas flores.

Então se, porventura, alguém pise na minha grama, despedace minhas flores e arranque alguns galhos, a culpa não é minha de não ter cuidado do meu jardim. Tenho lá minha parcela de responsabilidade por ter permitido a entrada, mas não venha me recomendar algo que eu já faço. Amigos, por favor, inventem outra fábula.

quinta-feira, 4 de julho de 2013

Marcela é publicitária. Clara, advogada. Marcela é extrovertida, trabalha com o que ama, mora com os pais e o irmão mais novo. Clara é extremamente tímida, formou-se em direito por imposição dos pais, mora sozinha e é alérgica a qualquer tipo de animal. Marcela faz planos para o futuro. Clara vive lá, pois não suporta a ideia estar no presente. Marcela mora em Brasília, Clara em Porto Alegre. Marcela é o oposto de Clara. Clara é o oposto de Marcela. Marcela e Clara talvez nunca vão se conhecer, mas uma coisa elas têm em comum: ambas sonham com o dia do seu casamento. 

A principal diferença entre Marcela e Clara neste aspecto, é que, enquanto Clara pensa que só após o casamento será feliz por completo, Marcela se considera completamente feliz e o casamento é uma das coisas que a compõe. Clara é pragmática em suas decisões, cheia de protocolos. Marcela é prática e leve nas coisas que diz. Enquanto uma planeja e peleja para ter seu happy end, a outra diz que o final é só quando a gente morre e, antes disso, tudo é festa. 

Marcela tem espírito daquelas modelos de comercial de margarina. Vive sorrindo, quase nada abala seu bom humor, canta no carro em meio ao trânsito, dança na chuva e adora, ADORA, surpresas. Foi pedida em casamento no meio do expediente, com a agência toda emocionada e boquiaberta com a criatividade de seu namorado. Disse “sim”, o abraçou e beijou como se nada mais existisse além dos dois. Que se dane a opinião alheia!

Clara pensou duas vezes antes de aceitar seu pedido de casamento, que foi feito também de surpresa em um almoço de domingo, em que somente a família estava. Não sabia onde enfiar a cabeça de tanta vergonha. Clara não sabe lidar com surpresas e pra ela tudo precisa ser pré-agendado com, no mínimo, uma semana de antecedência. Precisa se programar, se vestir adequadamente, usar o perfume certo, assim como as palavras.

Eu tenho pena de Clara. Vive deixando tudo pra depois e se esquece de que o futuro nunca chega. A gente nasce, cresce e morre no presente e é nele que precisamos viver. Marcela talvez nunca seja rica, vire empresária de sucesso ou deixe um grande legado, mas todos se lembrarão de como ela soube viver. Às vezes precisamos ser um pouco mais Marcela e menos Clara. Já que não temos controle de tudo, que ao menos tenhamos o controle de nossas reações.

sexta-feira, 28 de junho de 2013

Atente

Atente ao tempo.
Ele passa e leva tudo de bom e de ruim e deixa somente as lembranças. Não adianta, não retrocede, não para, apenas segue e é nossa obrigação sabermos respeitar seu ritmo e dançar conforme a música. É via de mão única. Pedaços de nós que ficam para trás jamais serão recuperados e é essencial que aceitemos esta condição. Em hipótese alguma tente jogar sujo com o tempo: sagacidade é uma de suas principais virtudes e, cedo ou tarde, ele te dá uma rasteira.

Atente ao seu corpo.
Você é fruto de tudo o que viveu, comeu, bebeu, vestiu, usou. Sua história é constituída de oportunidades aproveitadas, chances perdidas, perdas sofridas e vitórias bem vividas.  Existe um abismo de diferenças entre o que você vê no espelho e a forma como você se enxerga. Enquanto o reflexo do vidro é efêmero, seu verdadeiro alicerce é eterno e imutável.

Atente à sua mente.
Como está sua relação consigo mesmo? Anda se cobrando muito? Se sente cansado diante de tantas responsabilidades? Tem se dado férias? Diferente das máquinas, não funcionamos por meio de engrenagens fáceis de trocar. Quando nossa mente apresenta problemas de funcionamento é difícil de ajustar aos moldes antigos. Seja honesto com suas necessidades e limites e, se necessário, extravase os excessos.

Atente ao seu parceiro.
Valorize quem está com você. É uma pessoa de carne, osso, sonhos, desejos e vontades. Ninguém entra numa relação sozinho e é preciso haver, além de harmonia, um equilíbrio entre os dois. Ela só faz por você o que gostaria que você fizesse por ela. Preste atenção nos detalhes, nas entrelinhas e nas coisas não ditas. Repare na alegria dela ao te ver e faça uma constante reflexão se vocês estão se doando igualmente para o bem da relação. Por pior que seja a rotina, faça um elogio espontâneo. Isso melhora o humor e a moral de qualquer um.

Atente ao mundo.
Estamos na era da sustentabilidade, o que coloca em cheque nossas atitudes em relação ao meio ambiente. Devemos ter a consciência de que nada é eternamente sustentável, reciclável ou reutilizável, mas algo deve ser feito para que possamos amenizar os impactos causados no planeta. Esqueça a próxima geração e pense na sua. Só assim tomaremos uma atitude imediata para mudar algo.


Viver é um constante exercício de atenção. 

sexta-feira, 14 de junho de 2013

O que me faz brasileiro?


O que te faz sentir orgulho de ser brasileiro? Quando me fazia esta pergunta, a lista de respostas era imensa, hoje não sei. Pertenço a um país cuja localização geográfica é privilegiada, o clima é agradável, o povo é alegre e acolhedor e outra infinidade de qualidades que antes serviam de maquiagem para me cegar ao lado podre de tudo isso. Ontem, pela primeira vez, tive que me calar diante dos amigos que sempre insistiram em criticar o país enquanto eu elogiava. Senti vergonha de ser daqui.

Um país que começou errado, foi explorado, escravizado, libertado e, depois de tudo, marginalizado. Uma terra que julgaram ser descoberta, mas não estava aberta, onde trapacear é considerado coisa certa e, só agora, a população desperta. Uma nação que prega a democracia, mas usa da demagogia, pratica a idolatria e, agora, está aí, à reveria. Este, sim, é o meu Brasil.

Estamos mudos diante de tanta corrupção e, em qualquer instante de voz, somos atacados por balas de borracha, gás lacrimogênio e bombas de efeito moral. Mas que moral: A deles ou a nossa? Refiro-me a eles como as pessoas que prestam um desserviço e freiam o desenvolvimento do país. São Paulo, Rio e diversas outras cidades manifestam seu descontentamento contra o aumento das tarifas do transporte público, que nunca são revertidas em benefícios aos usuários. Passeatas pacíficas são transformadas em cenários de guerra por culpa de um Estado opressivo e banhado de culpa. 

Somos um só povo, mas de vários lados. Do lado de cá, uma população cansada de ser feita de idiota; do outro, policiais da linha de frente, representando o Estado e agindo com covardia, mediante ordens superiores; por fim, e longe das lentes das câmeras, os governantes, verdadeiros culpados. Esta é uma guerra em que somente inocentes se insultam e se ferem, enquanto nossos distintos políticos armam novas estratégias.

É contraditório usar a força como medida para manter a ordem. É desumano prender jornalistas que estavam lá somente para exercer sua função. É revoltante saber que poderia ser diferente, se os representantes pensassem em quem os colocou no poder. O que me conforta, mas ao mesmo tempo causa indignação, é que todos os países passam pela mesma situação, cada um com suas questões. 

Cansei, mas não desisti. O que me faz brasileiro é a esperança de que mesmo diante das adversidades, um dia venceremos, mas com honestidade. Há muito a ser feito e agora, mais do que nunca, é hora de ter a consciência de que algo precisa ser mudado e não devemos transferir a responsabilidade da renovação para os outros. Avante!

segunda-feira, 10 de junho de 2013

Natureza Humana


Tudo tem uma razão de existir. Longe de mim falar sobre espiritualidade e filosofia, não sou entendedor e muito menos curioso pelo assunto. Falo da natureza, mesmo. Segundo teorias criadas pelo homem, cada elemento tem um papel fundamental para o bom funcionamento do planeta. O problema é que nos colocamos no topo desta cadeia e nós decidimos o que bem entendemos com ela. 

Está circulando na internet um vídeo bastante interessante sobre dois cães, cujo um é cão-guia do outro. Amigos desde antes da doença que cegou o labrador Milo, ele o terrier Eddie possuem uma relação de cumplicidade que poucas vezes vemos entre humanos. Sabendo das limitações do amigo, Eddie o acompanha nas caminhadas, brincadeiras e, com um guizo pendurado na coleira, guia seu amigo para que ele não se perca nem tropece nos obstáculos.

Poderia ser um viral qualquer, mas sob o ponto de vista das relações ele nos questiona se podemos mesmo ser considerados os únicos habitantes do planeta dotados de razão e emoção. Cães amam seus entes, galinhas protegem suas crias, baleias morrem para defender seus filhotes, pinguins possuem um senso de coletividade fora do comum. Chegamos na Terra depois deles e nosso único trabalho foi copiar os exemplos que deram certo. 

Somos uma subespécie de plagiadores que tomamos o posto da chefia. Com armas e ferramentas, usurpamos o poderio que nunca foi nosso e fizemos um estrago de proporções talvez irreversíveis. Deturpamos o conceito do que é natural e criamos a natureza humana, com suas próprias regras, leis e legados sujos. Somos reis de um império que criamos a troco da escravização, morte e extinção de diversas espécies. Estudamos a essência e o comportamento de todos os seres vivos do planeta, ignorando nossos próprios e criando subterfúgios para explicar nossas mazelas. 

De fato, tudo tem uma razão de existir, inclusive a vontade de que seja criada uma raça realmente superior a todas as existentes, que crie um mundo de paz e respeito. Senão, meus caros, melhor viver no espaço que, por enquanto, é de ninguém.