domingo, 10 de novembro de 2013

Valor sentimental


Sou o pior tipo de nostálgico: aquele que agrega valor sentimental à tudo. E quando digo tudo me refiro desde peça de roupa, passando por bilhetes de passagem aérea e até tampa de caneta mordida. Acredito que se tal objeto fez parte da minha história, merece um lugar no campo dos meus afetos e, por quê não no meu quarto? É tanta quinquilharia que qualquer um que possua um mínimo senso de organização teria coceiras só de olhar para minhas gavetas.

Vez em quando recebo uma entidade organizativa que me faz revirar gavetas e armários em busca de algo que já não me é necessário. O mais impressionante é que, quando não é mais necessário, eu promovo a importância do objeto pelo valor sentimental. São cartas trocadas com amigos que moram em outra cidade, lembranças que me trouxeram do exterior, pulseiras, livros, discos e até mesmo anotações em post-it: tudo tem uma história e um porque de estar ali. 

E são nesses devaneios organizatórios que procuro praticar o desapego. Entender que muitas vezes a memória é mais que o suficiente para registrar um momento e torná-lo especial. De nada adianta fotos e objetos se nada preenche a prateleira da memória. Hoje faço viagens e a coisa que menos me preocupa é registrar o fato em imagem, pois por maior que seja a qualidade da imagem, fotografias não registram sabores, cheiros e sensações que só são experimentadas por quem viveu. Se quero mostrar aos outros como minha viagem ao nordeste foi maravilhosa, basta que eles vejam meu bronzeado quando chegar. O resto não lhes diz respeito.

De tudo, o que fica é a memória e a necessidade de compreender que poucas - muito poucas - coisas possuem valor sentimental a ponto de serem guardadas. Uma joia de família, por exemplo, merece. Do resto cabe apenas ao meu cérebro registrar ou não tal informação. E quanto aos outros, eles que tenham suas próprias memórias.