segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Antes de morrer




Me faltam palavras para definir tamanha tragédia que chocou o país neste fim de semana, em que mais de 230 pessoas vieram a óbito após um incêndio em uma casa noturna na cidade de Santa Maria, no Rio Grande do Sul. Jornais do mundo inteiro noticiaram o fato e muito se fala sobre o assunto, mas isso me trouxe à tona um questionamento que sempre faço quando vejo acidentes como este com tantas vítimas: como foram as horas que precederam sua morte?

Pode soar mórbido, mas não. Inúmeras vezes ouvi relatos de parentes e amigos de vítimas que relataram suas últimas horas de vida e havia um ponto em comum: quase todas apresentaram comportamento atípico em seus últimos dias. Crendices e misticismos à parte, será mesmo que de alguma forma pressentimos nossa partida?

“Ao se despedir, ele me deu um abraço forte como nunca havia me dado”, disse a mãe do rapaz que morreu em um acidente de carro. “Quando saiu de casa, ela, que era bastante severa, deu um beijo fraterno em nossos filhos e saiu por aquela porta pela última vez”, diz o marido de uma empresária que foi baleada em um semáforo. Casos fictícios, mas que, combinemos, podem acontecer com qualquer um de nós. 

Será mesmo que sentimos que a hora está chegando e decidimos deixar a melhor das impressões? Será que Deus avisa: “É, meu amigo, sua hora chegou. Trate de se despedir dos seus entes com sua forma mais carinhosa.”? Ou será que os que ficaram preferem guardar de forma bela as últimas lembranças dos que não estão mais entre nós? Perguntas que permanecerão sem resposta por muito tempo, assim espero.

Se estes jovens tiveram ou não a oportunidade de se despedir, agora pouco importa. Voltemos nossas orações aos amigos e familiares das vítimas para que tenham o conforto necessário neste momento tão difícil. E se você não se sentiu sensibilizado ao acompanhar o caso, talvez esteja longe de morrer, mas também não sabe o valor de uma vida. 

Aos que sentem, orem. Aos que não sentem, respeitem.


sexta-feira, 25 de janeiro de 2013


Ela, atriz, só queria sair de cena. Esperava ansiosamente ser ovacionada e ver as grandes cortinas vermelhas se encontrando para, enfim, se perder. Estranho mesmo era ter que interpretar o próprio personagem e se perder nas cenas, esquecer as falas e não saber onde se situar no palco da vida.

Ela, coitada, escolheu a profissão certa: vive outra vida para fugir da sua. Talvez por não suportar a ideia de ser quem é, ou o contrário, vive um faz-de-conta para entender a moral da história. Mas que moral? Nem isso ela se dá.

Ela, mulher, nunca quis se despedir da menina. Viver no mundo dos grandes lhe parecia hostil demais para se julgar feliz. Não que fosse frágil, mas não entendia muito bem o porque das pessoas serem tão más umas com as outras. Adultos são confusos e se magoam com facilidade. Crianças não. Choram tão fácil quanto esquecem, sabem perdoar e nunca perdem uma boa brincadeira.

Atuava para sufocar a criança que ainda era.

Que lástima.


segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Sobre pessoas e estações





Adoro gente com jeito de primavera. São leves e trazem vida onde antes aparentava morte. Sabem florescer em meio aos terrenos mais improváveis e sua presença é tão agradável que todos que a cercam desejam que nunca parta. Gente com jeito de primavera te convida a fazer pique niques, passeios no parque, banho de cachoeira, entre outras coisas que te fazem interagir com fontes de vida. Se as pudesse definir em uma palavra, diria: pulsantes.

Ah, as pessoas com jeito de verão. Estas são as que mais me instigam com sua intensidade. Ora chuvas torrenciais, ora calores incessantes. Ora brisa leve de praia, ora tempestades saarianas. São objetivas, determinadas e para elas não importam as consequências. Elas preferem o estrago de seus atos em vez da morbidez de seus pensamentos presos. São interessantes e extremamente sensuais. Se as pudesse definir em uma palavra, seria: intensas.

Pessoas com jeito de outono são as mais ousadas e profundas. Permitem que o tempo a desconstrua para entender sua essência e, assim, renascer tempos depois. São pessoas que possuem elevado grau de autoconhecimento, pois se permitem a dor da queda para dar o devido valor à beleza das flores. Assim como as temperaturas da estação, são estáveis e amenas, sendo companhias ideais para assistir ao pôr do sol. Se as pudesse definir em uma palavra, esta seria: sábias.

Gente com jeito de inverno causa medo em muitos, mas não há o que temer de pessoas tão amáveis. Aparentemente frias, estas pessoas são talvez as mais interessantes. Centradas e consequentes, indivíduos com jeito de inverno trazem uma beleza escondida, apenas esperando um mínimo raio de sol para se mostrar. Frequentemente precisam de calor alheio e, em troca, oferece-lhe seu maior bem: o coração que tanto escondia. Saiba derreter o gelo de uma pessoa de inverno e ela será sua para sempre. Se fosse capaz de defini-las em uma palavra, seria: surpreendentes.

Há também os que mudam de estação e precisamos aprender a conviver com as pessoas e seus climas, às vezes favoráveis, às vezes não. Sua beleza metamórfica é deveras encantadora e suas mudanças as fazem eternamente interessante de se conviver.

Para cada peso, uma medida.
Para cada estação, uma pedida.
Para cada um, uma vida. 


terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Manipulação consentida




Hoje começa a 13º edição do famigerado Big Brother Brasil e com ele uma guerra branca: de um lado, os espectadores fervorosos da atração; do outro, os militantes contra a alienação do programa que dedicam boa parte do seu tempo criando argumentos para convencer os indecisos. Já cansei desses discursos anuais anti-BBB. Entra ano, sai ano e é a mesma falação e de que adianta? NADA. Não sou do tipo que perde programas sociais para ver a atração, mas assisto quando posso. E gosto. De verdade.


Se não gosta do programa, simplesmente não assista. Parem com esses discursos de alienação e retidão se você mora num país onde todos, em maior ou menor escala, somos corruptos. Tente ao menos respeitar a opinião alheia já que esta campanha para boicotar o BBB sempre foi e sempre será frustrada. Não defendo o programa, mas as pessoas que gostam e querem assistir tranquilamente sem ser bombardeadas com campanhas inúteis e desagradáveis.

As vezes quem critica o BBB é a mesma pessoa que paga para assistir um clássico do futebol e ajuda a engordar a conta dos jogadores, dirigentes de times e ainda contribui para a alienação maior deste país que é o FUTEBOL. Não sou a favor do futebol comercial, mas respeito que curte. Cada um com suas escolhas. É cada um com sua manipulação consentida.

Atendo às teorias da comunicação, a manipulação só é possível quando uma mensagem enviada pela mídia é imediatamente aceita e espalhada entre todos os receptores, em igual proporção. Se existem pessoas que gostam e as que não gostam de qualquer programa, esta teoria vai pelo ralo. Ou seja, manipulação só é possível se consentida, o que deixa de ser o que é.

Uma emissora de TV não manipula. Um político não manipula. Um sistema governamental não manipula. Perceber isso é claro quando nos deparamos com uma sociedade com pessoas completamente diferentes umas das outras. Ninguém é obrigado a aceitar as escolhas de outrem, mas respeitar é mais que preciso. BBB pode não acrescentar ao intelecto, mas mostra de forma clara uma das coisas que mais precisamos: aprender a conviver e a respeitar.

E se você não pratica isso, não é digno de ser vencedor no reality show da vida.