terça-feira, 1 de abril de 2014

O impublicável

Meses atrás escrevi sobre os hiatos de tempo e o quanto eles são necessários para que possamos racionalizar o que acontece com a gente. E como tudo que a gente cria se torna um pouco parte de nós, às vezes de forma inconsciente, dei férias para este blog e entrei numa fase de escrever textos profundamente pessoais e que vão engrossar o meu livro das coisas que nunca serão publicadas. Alguns poucos são desabafos, mas a grande maioria deles são sobre assuntos tão desconexos que não faria sentido para qualquer outra pessoa senão eu.

E se tudo o que você viveu até agora fosse escrito, narrado e documentado? Quais seriam os fatos impublicáveis? O que você considera íntimo demais para que qualquer um tenha acesso? E as coisas que você fez e se arrependeu, mas não quer compartilhar a experiência? A Constituição brasileira nos protege com o direito à privacidade, mas outro benefício que não está em constituição alguma e ninguém pode nos tirar é a individualidade.

Logo que nascemos somos expostos a um universo de experiências, bem ou mal sucedidas. E é cada um com o seu. Nada nem ninguém pode me tirar a sensação do primeiro beijo, da primeira decepção amorosa, da alegria de passar no vestibular e de uma infinidade de sensações que por mais que eu tente contar, só farão sentido a mim. Exceto eu, ninguém saberá explicar o que senti quando nadei com golfinhos na praia de Pipa, ou da emoção que senti ao apreciar o pôr do sol em Florença, ou mesmo porque me emociono toda vez que chego ao final de um livro.

Tudo isso pra mim é impublicável. Posso compartilhar fotos, vídeos, e áudios de onde quer que esteja, mas o que sinto é só meu. Não foi uma questão de me reencontrar, já que estive comigo o tempo todo. A gente nunca se perde, mas às vezes os seres dentro de nós entram em choque de ideias e é preciso ordem na casa para que o trabalho funcione. Faxina feita. Precisava deste hiato para criar o que ninguém mais poderá fazer por mim.