Meses atrás escrevi sobre os
hiatos de tempo e o quanto eles são necessários para que possamos racionalizar
o que acontece com a gente. E como tudo que a gente cria se torna um pouco
parte de nós, às vezes de forma inconsciente, dei férias para este blog e
entrei numa fase de escrever textos profundamente pessoais e que vão engrossar
o meu livro das coisas que nunca serão publicadas. Alguns poucos são desabafos,
mas a grande maioria deles são sobre assuntos tão desconexos que não faria
sentido para qualquer outra pessoa senão eu.
E se tudo o que você viveu até
agora fosse escrito, narrado e documentado? Quais seriam os fatos impublicáveis?
O que você considera íntimo demais para que qualquer um tenha acesso? E as
coisas que você fez e se arrependeu, mas não quer compartilhar a experiência? A
Constituição brasileira nos protege com o direito à privacidade, mas outro
benefício que não está em constituição alguma e ninguém pode nos tirar é a
individualidade.
Logo que nascemos somos expostos
a um universo de experiências, bem ou mal sucedidas. E é cada um com o seu.
Nada nem ninguém pode me tirar a sensação do primeiro beijo, da primeira
decepção amorosa, da alegria de passar no vestibular e de uma infinidade de
sensações que por mais que eu tente contar, só farão sentido a mim. Exceto eu,
ninguém saberá explicar o que senti quando nadei com golfinhos na praia de
Pipa, ou da emoção que senti ao apreciar o pôr do sol em Florença, ou mesmo
porque me emociono toda vez que chego ao final de um livro.
Tudo isso pra mim é impublicável.
Posso compartilhar fotos, vídeos, e áudios de onde quer que esteja, mas o que
sinto é só meu. Não foi uma questão de me reencontrar, já que estive comigo o
tempo todo. A gente nunca se perde, mas às vezes os seres dentro de nós entram
em choque de ideias e é preciso ordem na casa para que o trabalho funcione.
Faxina feita. Precisava deste hiato para criar o que ninguém mais poderá fazer
por mim.