sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Dia Oficial da Felicidade


Eu, Frederico Melo Paixão, com os poderes do cargo de Dono de Mim Mesmo que me foi conferido, decreto hoje o dia oficial da felicidade. O governo do Estado de Felicidade recomenda desligar-se preocupações, e desligar também os celulares. As relações exteriores com os Estados de Estresse, Preocupação, Culpa e Tristeza estão cortadas até segunda ordem. Decreto também feriado estadual e festa em Liberdade, capital do Estado de Felicidade.  

Hoje, somente hoje, está permitido:
  •        Acordar, olhar para a janela do quarto e dar aquele sorriso ao espreguiçar pelo simples fato do sol ter nascido. 
  •        Tentar tomar um suco de acerola e ter a difícil tarefa de beber e rir ao mesmo tempo.
  •        Se olhar no espelho, notar a barba por fazer e achar que está parecendo um mendigo. E rir disso.
  •        Cantar e dançar no chuveiro como uma criança de 10 anos.
  •        Ligar o iPod naquela playlist mais feliz e sair cantando pela rua sem notar os olhares dos outros que não decretaram o seu dia da felicidade.
  •        Rir de piadas bobas e gargalhar ao recordar bons momentos, independente de onde esteja.
  •        Ignorar de verdade qualquer coisa que possa fazer do dia menos feliz que o permitido.
  •        Não ler jornais ou sites de notícias que possam minimamente apagar um sorriso.
  •        Gargalhar até o rosto e a barriga ficarem dormentes.
  •        Rir dos próprios defeitos. Mas rir de modo insano.
  •      Ataques de loucura também estão permitidos.
Afirmo também que o Estado de Felicidade não é laico, portanto, Deus participará de cada comemoração e terá participações especiais ao longo do dia, na hora que bem entender.

Conforme disposto do Artigo Indefinido, O dia de Hoje poderá se prorrogar para o dia de Amanhã, contanto que sempre seja chamado de Hoje para fins de descontos no Imposto de Quem se Renda.

O Governo do Estado de Felicidade, por meio de seu governador, Frederico Melo Paixão, afirma e dá fé.

Liberdade,

Dia Hoje do mês de Agora, ano de Dois Mil e Catatau.


segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

O melhor que poderia ser



Inspiração é um bicho danado. Aparece nas horas mais improváveis e quase sempre nos pega desprevenidos. Para os fotógrafos, a bateria da câmera acabou. Para os músicos, o único violão disponível se encontra com 3 cordas arrebentadas. Para quem escreve é pior: a inspiração vem na rua, no ônibus lotado ou até mesmo no banco da igreja, onde não dispomos de papel, caneta ou até mesmo um computador disponível para extravasarmos a criatividade.

Pois hoje ela não me escapou. Acabei de assistir pela terceira vez o filme Divã, filme baseado na obra de Martha Medeiros, que dispensa comentários de tão talentosa. Mas uma parte do filme me chamou mais a atenção: o final. Em sua última sessão de análise com seu psicólogo, a protagonista Mercedes afirma: “Eu nunca vou estar pronta. Tudo o que eu preciso é conviver bem com meu desalinho, minha inconstâncias e com as surpresas que a vida traz”. E não é que a danada tem razão?

O que Martha, através de Mercedes, talvez não saiba, é que ela provocou pequenas catarses aqui dentro. Me faz perceber que nunca terei o controle da vida, mas que em minhas reações diante de suas surpresas, mando eu. Que objetivo e obstinação são completamente opostos. Que o sentido de viver é ter metas, mas não se obstinar em alcançar todas: alguns fracassos são essenciais para o nosso aprendizado. E que, embora nem tudo que é sonhado se realize, a gente faça o melhor que poderia ser.

Posso não ser o filho exemplar que meu pai sempre sonhou, então que eu seja o melhor filho que eu poderia ser. Talvez não seja um marido romântico como dos filmes, mas me esforço para satisfazer o máximo de expectativas que me for possível, tornando-me o melhor marido que eu poderia ser. Não sou o profissional que todos esperam, mas dentro dos meus limites posso transformar o meu trabalho no melhor que poderia ser. Isso não significa ser medíocre, superficial ou pouco esforçado. Quer dizer que sei das minhas limitações e não devo objetivar o meu sucesso baseado nos padrões dos outros.

O bem ou o mal que provocamos, para nós mesmos ou para os outros, certamente voltará. Quem permite conhecer seus próprios limites e realizar suas obras baseadas neles está fazendo bem para si mesmo e este bem voltará de alguma forma. Talvez a felicidade seja o retorno mais tangível, mas se não vier, que sejamos os mais felizes que poderíamos ser.