“Veja o sol dessa manhã tão cinza”,
dizia Renato Russo. Pois nem o céu claro, provocado por uma das mais longas
estiagens da história do nosso país, conseguiu fazer com que esta manhã de
quinta feira fosse menos cinza. Isso porque hoje fomos bombardeados com mais
uma notícia de um assassinado provocado por homofobia, desta vez no estado de
Goiás. As tempestades que chegarão de agora em diante jamais serão da cor dos
olhos castanhos de João Antônio, um jovem de apenas 18 anos que teve a vida
ceifada por um motivo tão torpe: o de ser quem é.
E de pensar que, tempos atrás, éramos
tão jovens. Mas essa juventude nos foi roubada e hoje somos reféns. Reféns dos
nossos representantes, que insistem em fechar os olhos diante de estatísticas
tão alarmantes. Reféns da mídia, que nos transmite apenas o que é de seu
interesse. Reféns do sistema, onde ainda prevalece a lei da selva. E também
refém de uma cultura arcaica e opressiva, onde tudo o que é considerado fora do
normal, é descartado, às vezes da pior forma. Mas o que é normal?
Vivemos num país conhecido
mundialmente pela cordialidade e alegria. Somos ensinados a sermos cordiais com
as visitas, mas como farei isso se sou incapaz de tratar bem aos meus
semelhantes? Quando é que fomos ensinados a derramar sangues amargos e sermos
selvagens?
Em períodos eleitorais, uma das
bandeiras mais levantadas é a da Educação e isso é pauta de todo candidato. Mas
o que foi prometido, ninguém prometeu. Confundem sistema ensino com educação e
se esquecem que isso é coisa que se aprende em casa. Não sabem a diferença
entre física, que é uma matéria, com respeito à integridade física, que é
disciplina. Empurram a responsabilidade para o professor, às vezes sem saber
que cada pai é também um educador.
João Antônio já não tinha mais o
tempo que passou e agora também não tem todo o tempo do mundo. Hoje muita gente
não vai mais lembrar e esquecer como foi o dia. Sua família e seus amigos
ficarão algum tempo sem seguir sempre em frente. Perderam o tempo. Tempo de
estar com João, tempo de amar João, tempo de valorizar João. Não tenho medo do
escuro, mas deixem as luzes acesas para que possamos ver no que se transformou
a nossa Geração Coca Cola.