quinta-feira, 18 de junho de 2015

CONTROLE

Pode reparar: qualquer registro feito pelo ser humano, de hoje até nossa versão mais primitiva, tudo o que sempre quisemos foi ter o controle sobre algo ou alguém. Primeiro o fogo, depois o ambiente, depois a mobilidade, depois a língua, a sociedade e daí em diante foi um descambo só. Nascemos e morremos inconformados com qualquer coisa e basta uma ponta de dúvida para que fiquemos inquietos para saná-la. Que conhecimento, que nada! O que a gente busca é o controle.

Viver em sociedade requer do indivíduo limites impostos por um poder maior, na maioria dos casos o Estado ou o que o represente, para que haja uma ordem. Quando algo foge do controle, o poder maior impõe uma sanção. E este poder maior pode vir de outras formas. A representação de Deus, Alá, Ganesha, Buda ou qualquer outra forma divina também nos dita formas de controle sobre si ou sobre o outro. Como brasileiro e pertencente a uma sociedade influenciada pela cultura cristã, falarei sobre o que me tange.

Julgamos em nome de Deus. Condenamos em nome de Deus. Matamos em nome de Deus. Tudo isso motivado por um único motivo: o medo do que nos foge ao controle. Se o Estado não acata as solicitações, recorre-se à divina. Mas longe de mim discursar sob essa seara. Muita saliva foi gasta pra falar sobre este assunto para, em vez de resolver, piorar a situação.

Me refiro à nossa incessante busca por um controle inalcançável. Queremos controlar o outro com joguinhos emocionais. Somos surpreendidos. Queremos controlar as produções de nossos insumos. Uma mudança no clima altera os planos. Queremos controlar nosso próprio futuro. Esquecemos do poder do acaso. Nunca tivemos tanto controle sob o que nos cerca, mas também nunca tivemos tanta ganância de querer mais.

Temos controle sobre várias doenças, sobre as ciências, sobre a matemática e até mesmo sobre a programação da TV. Controlamos o que lemos nos jornais, os conteúdos na internet e nunca fomos tão livres para nos expressar. Estamos preocupados demais com o que vamos falar que ignoramos o que o outro tem a dizer. Focamos tanto em nossos futuros que nem passa pela nossa cabeça que existe um mundo além do nosso umbigo. Consumimos uma auto ajuda que me fala tanto que somos especiais que passamos a acreditar piamente e o resto que se exploda.


Me exigem tanto posicionamento político, pessoal, social e sentimental que já senti inveja de qualquer animal de outra espécie por ter uma vida tão simples e livre de escolhas. Ser humano cansa. E, pensando bem, os melhores momentos da vida são aqueles que não temos que escolher nada. É sentir e ponto. Coisa que qualquer animal faz.