Pode
reparar: qualquer registro feito pelo ser humano, de hoje até nossa
versão mais primitiva, tudo o que sempre quisemos foi ter o controle
sobre algo ou alguém. Primeiro o fogo, depois o ambiente, depois a
mobilidade, depois a língua, a sociedade e daí em diante foi um
descambo só. Nascemos e morremos inconformados com qualquer coisa e
basta uma ponta de dúvida para que fiquemos inquietos para saná-la.
Que conhecimento, que nada! O que a gente busca é o controle.
Viver
em sociedade requer do indivíduo limites impostos por um poder
maior, na maioria dos casos o Estado ou o que o represente, para que
haja uma ordem. Quando algo foge do controle, o poder maior impõe
uma sanção. E este poder maior pode vir de outras formas. A
representação de Deus, Alá, Ganesha, Buda ou qualquer outra forma
divina também nos dita formas de controle sobre si ou sobre o outro.
Como brasileiro e pertencente a uma sociedade influenciada pela
cultura cristã, falarei sobre o que me tange.
Julgamos
em nome de Deus. Condenamos em nome de Deus. Matamos em nome de Deus.
Tudo isso motivado por um único motivo: o medo do que nos foge ao
controle. Se o Estado não acata as solicitações, recorre-se à
divina. Mas longe de mim discursar sob essa seara. Muita saliva foi
gasta pra falar sobre este assunto para, em vez de resolver, piorar a
situação.
Me
refiro à nossa incessante busca por um controle inalcançável.
Queremos controlar o outro com joguinhos emocionais. Somos
surpreendidos. Queremos controlar as produções de nossos insumos.
Uma mudança no clima altera os planos. Queremos controlar nosso
próprio futuro. Esquecemos do poder do acaso. Nunca tivemos tanto
controle sob o que nos cerca, mas também nunca tivemos tanta
ganância de querer mais.
Temos
controle sobre várias doenças, sobre as ciências, sobre a
matemática e até mesmo sobre a programação da TV. Controlamos o
que lemos nos jornais, os conteúdos na internet e nunca fomos tão
livres para nos expressar. Estamos preocupados demais com o que vamos
falar que ignoramos o que o outro tem a dizer. Focamos tanto em
nossos futuros que nem passa pela nossa cabeça que existe um mundo
além do nosso umbigo. Consumimos uma auto ajuda que me fala tanto
que somos especiais que passamos a acreditar piamente e o resto que
se exploda.
Me
exigem tanto posicionamento político, pessoal, social e sentimental
que já senti inveja de qualquer animal de outra espécie por ter uma
vida tão simples e livre de escolhas. Ser humano cansa. E, pensando
bem, os melhores momentos da vida são aqueles que não temos que
escolher nada. É sentir e ponto. Coisa que qualquer animal faz.