terça-feira, 30 de abril de 2013

Forever young



Me tirem desse mundo. Aqui não pertenço. Vejo-me na contramão de milhares de pessoas infectadas pela Síndrome de Peter Pan e, ainda bem, por enquanto estou imune. Os portadores desta síndrome não têm paz. Querem ser eternamente jovens, vivem numa eterna luta contra o tempo e não entendem que nostalgia existe somente para ser lembrada, não vivida. Ao contrário da canção, I don’t wanna be forever Young

Vez ou outra me questiono se o meu envelhecimento que é precoce ou a juventude dos outros que é retardada. E não chego a resultado algum. Não sou o mesmo de cinco anos atrás e acho completamente natural que minha rotina e meus valores mudem conforme adquiro experiências. Enjoo fácil de lugares, programas, comidas, bebidas. A rotina me massacra e sinto-me deslocado de diversos grupos.

Mas o que vejo no cotidiano são pessoas em sua eterna batalha contra o tempo. Não querem envelhecer, mas antes disso, não querem se mostrar velhos. É mais uma questão de imagem. Prova disso é a indústria da beleza e rejuvenescimento que, independente de crises, cresce ano após ano. É botox, lifting, peeling e uma infinidade de tratamentos e produtos para retardar os efeitos do tempo, sempre implacável.

Cada idade tem sua beleza e características próprias. Peter Pan, coitado, nunca terá o prazer de rever os velhos amigos e estes notarem como o tempo lhe fez bem. Em sua eterna juventude, será sempre confuso, dependente e completamente despreparado para os percalços da vida, que certamente virão. Viverá tanto em constante euforia que não conhecerá a felicidade, que nunca é plena, justamente para ser valorizada. Imaturo, não enxergará a saída logo a sua frente, pois terá os olhos cheios demais com lágrimas. Mimado como toda criança, não saberá lidar com as perdas.

Eternamente jovem? Não, obrigado. Evoluir me seduz muito mais do que estagnar. 

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Não pega bem


Tudo tem um tempo. Por mais subversivos que tentamos ser, os costumes sempre estão lá, com raízes tão profundas que não há força que as arranque. O tempo, implacavelmente necessário, passa e com ele muita coisa que nos servia, hoje não pega bem.

Aos 5 anos: chupeta não pega bem, pirraça não pega bem, fralda descartável não pega bem, chorar não pega bem.  Aos 15 anos: brincar não pega bem, carinho de mãe não pega bem, ainda não ter beijado na boca não pega bem, ser reprovado no colégio não pega bem, chorar também não pega bem. Aos 25: Não trabalhar não pega bem, falta de foco profissional não pega bem, ganhar menos de mil por mês não pega bem, estar sozinho não pega bem, chorar – mais uma vez – não pega bem. É cíclico e infinito. 

Cada fase uma cor, uma veste, uma atitude, pois isso faz parte da vida. Aos 26 muita coisa não me pega bem, mas surgem outras que caem como uma luva, mas somente em forma de conotação. Luvas definitivamente não pegam bem – pelo menos pra mim. Belchior já dizia que “no presente, a mente, o corpo, é diferente e o passado é uma roupa que não nos serve mais”. Além de não servir, aperta, incomoda e nos desloca.

Já não uso estampas, nem nas roupas, nem na alma. Já não pago para furarem meu corpo, muito menos meu coração. Minhas pernas já não aguentam horas na balada, muito menos minha paciência. Guardo tudo que vivi na minha caixinha de nostalgias, mas na consciência de que aquilo foi bom, mas hoje não faria sentido. Modismos à parte, respeito, amizade, carinho, amor, paixão e sexo, esses sempre pegam bem.

segunda-feira, 8 de abril de 2013

Obrigado, Feliciano


Cansei do discurso de ódio. Cansei de falar para o vento. Cansei de rebater violência com mais violência. Em tempos de discursos, passeatas e manifestações contra o pastor e deputado Marco Feliciano, optei pela discordância do óbvio e me atentei mais às consequências do que aos próprios fatos. Portanto, ao excelentíssimo deputado, deixo aqui o meu muito obrigado.

Obrigado por conscientizar o país de algo que sempre aconteceu e nunca foi devidamente discutido. Obrigado por mostrar ao mundo que nós existimos e temos, sim, vez e voz. Obrigado por ajudar milhares de pessoas que tinham seus pré-conceitos a esclarecer as dúvidas sobre o assunto. Obrigado por dar o pontapé inicial à revolução do amor e da liberdade sexual e religiosa. Seu tiro de repúdio, digníssimo, saiu pela culatra. A bala mascou de seu revolver e, olha, está voltando pra você.

Provou ao país que minorias, quando ofendidas, crescem. Que juntas, minorias viram maioria. Há tempos que essa deixou de ser uma luta somente dos gays, que agora se uniram a simpatizantes, negros, mulheres, umbandistas e uma infinidade de minorias que, de uma forma ou de outra, sentiram seus direitos ameaçados. Como diria José Lins do Rêgo, você nos deu ferramentas e coragem para derrubar nossos obstáculos.

Obrigado por seguir piamente a Bíblia e se tornar “Luz do mundo”, como Jesus nos ensinou. Sua luz entrou em nossos armários e nos tirou de lá. Mostrou-nos a porta de saída da câmara do medo. O fogo de sua luz simplesmente queimou as vestes beges do comodismo e refratou de tal forma que se transformou em milhares de cores vivas. Vida. Você, deputado, nos mostrou a vida em sua mais plena forma.

Sendo assim, não posso sentir ódio, mágoa ou rancor nem de você e muito menos de suas declarações. Sua função enquanto deputado é fazer valer o direito do povo e, quem diria, está fazendo isso muitíssimo bem! A luta por direitos civis é meramente simbólica. Precisamos mesmo é de lutar pela vida e pela felicidade. Que Deus, que espero que te perdoe um dia, te abençoe muito.

Abraços fraternos,