Sempre
estranhei o fato de que a morte gera mais comoção que a vida. Salvo
as devidas proporções, já que são sentimentos completamente
opostos, é difícil ver alguém comemorar o nascimento de um bebê
com tanta intensidade quanto chora pela perda de um ente. Acredito
que a partir do momento que nascemos nos tornamos imortais. Alguns
mais, outros menos, mas todos trazemos em nós a essência do
infinito que permanece conosco mesmo quando se apaga a chama da vida.
Digo
isso pois Roberto Gomes Bolaños, um dos grandes gênios da
dramaturgia, já não está mais acessível aos nossos sentidos,
embora seja imortal. Chespirito, como era conhecido, se imortalizou
através de suas obras. Em quase 60 anos de carreira ele deu vida a
diversos personagens como Chaves (seu Magnum Opus), Chapolin,
Professor Chapatin, entre outros que nunca morrerão enquanto houver
memória.
Assim como ele é imortal para a televisão, temos imortais na
música, no cinema, na medicina, na política, na culinária e até
mesmo nos serviços mais simples e menos reconhecidos. Cássia Eller
estava super viva no som do meu carro esta manhã. Gabriel García
Marquez revive a cada página aberta em seus livros. Hebe Camargo me
sorri até as orelhas quando vejo seu acervo. Bolaños pode não mais
estar acessível aos nossos sentidos, mas se imortalizou por tudo que
criou na sua vida e talvez isso ajude a amenizar sua ausência.
Sinceramente
acredito que nosso maior medo não é o de morrer ou como vamos
morrer. A maior angústia que sentimos é porque o tempo passa e
nunca paramos para apreciar nossas obras e, por isso, temos o receio
de cair no esquecimento. O vazio incomoda. Justifico, então, a
dependência que a fama causa em algumas pessoas e a abstinência
quando um artista cai no esquecimento do público que o costumava
ovacionar.
A
morte de Chespirito, assim como a de outros grandes nomes, me faz
pensar sobre a fragilidade do humano perto da fortaleza de suas
obras. Elas transcendem o criador, tomam vida própria e se
consolidam no terreno das memórias. Que todos sejamos grandes não
por quem fomos, mas pelo que criamos.