Parei
uns instantes para enumerar quais as coisas que mais me incomodam em
mim, quantas delas eu já resolvi e quantas ainda faltam. Apontar
defeitos no outro requer apenas observação e um tanto razoável de
senso crítico, mas pra se analisar a gente precisa ir além disso. É
necessário nos confrontar com as mentiras que nos fazemos acreditar.
Nunca
se consumiu tanta auto ajuda quanto agora. Análise deixou de ser
luxo faz tempo. Mais que nunca sabemos o quanto somos especiais –
e, de fato, somos -, mas nos esquecemos há uma certa distância
entre ser e se sentir importante. Somos estrelas, mas em conjunto
somos forçados a formar constelações, galáxias, universos. E é
daí que vem nossa inquietação em se entender e, para que a missão
seja cumprida, há que ter um pouco de dor.
Eu
tinha uma diastema que sempre me incomodou e recentemente pude
corrigir. Sempre fui maior que as crianças da minha idade e, por
isso, muitas vezes fui proibido de participar de brincadeiras. Também
por causa da altura, sou um pouco curvo (falar que sou corcunda seria
exagero). Há meses procuro um par de patins que sirvam no meu pé.
Nem sempre esses quase dois metros são uma dádiva. Nunca senti
necessidade de possuir as coisas mais caras, você me fará feliz com
pouco. Tenho gorduras localizadas e, só agora, estou aprendendo a
viver em harmonia com elas (antes de exterminá-las). Acho meus olhos
fundos demais. Estou longe de ser exemplo de beleza, mas a uma certa
luz até que me acho bonito.
Faço
de tudo pela felicidade dos meus, mas desde que isso esteja entre as
coisas que quero fazer. Dificilmente você me verá em uma balada e,
caso esteja, será ainda mais difícil que esteja transbordando de
felicidade. Já aceitei que sou do dia e vivo bem assim. Sou teimoso
e, às vezes, pirracento. Antes da realização financeira, procuro a
realização pessoal. Não espere que eu te bajule, isso não vai
acontecer. Não guardo mágoas, mas não perdoo fácil. Você pode
ter o último grau de miopia, mas se eu te cumprimentei e você não
respondeu pode ter certeza de que não olharei na sua direção
enquanto você não vier a mim. Sou péssimo para devolver
xingamentos (só penso em uma boa resposta horas depois). Engulo
cada vez menos sapos, mas ainda sim, faço. Defeitos. Incômodos.
Barreiras. E uma infinidade de outras coisas que preciso resolver ou
aprender a conviver.
Vocês
podem não perceber metade das coisas que disse aqui. Quando quero eu
disfarço bem. Em meio a tanta gente querendo se conhecer, acredito
que seja mais importante o ato de se reconhecer. Acredito que
reconhecer-se e aceitar-se é uma válvula de escape para evitar
diversos males e, entre eles, a depressão. Ser uma estrela é se
reconhecer especial, mas também ter a humildade de entender que há
um céu repleto de outras estrelas sedentas por mostrar seu brilho.