Meses atrás encontrei com uma amiga de infância que se mudou para a
Europa há alguns anos. Não sei se por nostalgia ou qualquer outra
coisa, antes de vê-la imaginei a mesma menina de cabelos
desgrenhados, óculos, marcas de espinhas recentes e uma leve
diastema que dava um charme em seu sorriso. Mas para meu espanto o
que vi foi uma versão 2.0 dela. Postura ereta, cabelos com cachos
definidos e volumosos, já não havia nem sinais de espinhas e os
óculos foram aposentados após uma cirurgia que eliminou seus graus
de miopia.
Demos um abraço apertado, perguntamos como estão o trabalho, os
estudos, os relacionamentos. Tudo como mandam o figurino, os bons
modos e também a saudade. Sentamos para tomar um vinho e, entre um
tópico e outro, trocávamos elogios do tipo: “como o tempo te fez bem!”, ou “você conquistou tanta coisa em tão pouco tempo!” e
“não acredito que você teve coragem para isso!”. Ambos
espantados sobre como o tempo é relativo quando não temos mais
contato algum para contar as amenidades do dia a dia e as pequenas
conquistas. Nos despedimos com a promessa de nos ver na próxima visita –
e espero muito que seja eu o visitante e ela a anfitriã.
Duas semanas depois recebi uma mensagem dela dizendo que ficou
admirada com minha nova versão, que eu estava melhor para mim
e para os outros. Agradeci dizendo o mesmo, pois ela realmente era
uma nova mulher e foi uma satisfação perceber sua evolução.
Às vezes ficamos impressionados ao vermos pessoas que já não fazem parte
de nosso cotidiano tomando atitudes completamente diferentes
que tinham quando estavam próximas a nós, como se o tempo não
fizesse efeito algum sobre elas e não as ensinasse nada. Vemos
nossos primos que tanto deram trabalho na juventude com baladas e
bebedeira tendo seus filhos e se tornando excelentes pais. Vemos nossos
ex afetos com seus novos amores fazendo coisas que nunca fizeram
conosco. Vemos aquele nosso amigo de colégio que tinha dificuldades
de aprendizado que montou sua própria empresa e agora está
prosperando. É muito bom ver as versões 2.0 das pessoas.
E isso não é um fator que me desanima, porque todas as pessoas que
conheço a partir de agora estão lidando com a melhor versão de
mim. E as pessoas que me conhecerem daqui a 10 anos verão uma versão
ainda mais aprimorada do que sou hoje, o Eu 2.0. E esse Eu 2.0 pouco
tem a ver com a idade. É certo que a vida tem altos e baixos e as
benéfices não vêm da mesma forma para todos, mas é praticamente
impossível passar pela vida sem aprender nada com as experiências.
Meu Eu 2.0 é mais consciente. Meu Eu 2.0 é menos impulsivo. Meu Eu
2.0 procura ouvir conselhos e em vez de só escutar. Meu Eu 2.0 é mais independente, mas também quer pessoas ao redor. Meu Eu 2.0 é
mais consequente. Meu Eu 2.0 é menos egoísta e menos dramático.
Meu Eu 2.0 recebeu uma série de melhorias que meu eu saberia
enumerar, pois algumas dessas atualizações são tão imperceptíveis
que só mesmo alguém que não nos vê há anos consegue chegar e
dizer: Estou admirada com sua nova versão.