quinta-feira, 4 de agosto de 2016

PRA OUTRA



Dias atrás conversava com uma amiga que tinha acabado de encerrar um ciclo amoroso em sua vida. Não era um namoro, nem noivado, muito menos casamento. Era um daqueles casos em que a gente está envolvido emocionalmente, mas não consegue saber exatamente qual o seu lugar na vida do outro, bem comum hoje em dia. O importante é que ela terminou uma coisa que talvez nem tenha começado e, aparentemente, não foi um processo doloroso. E aí, por parte dos amigos, chovem abraços, convites para uma cervejinha e o bom e velho discurso de que "agora é hora de partir pra outra".

Mas que outra? A falta de definição e as múltiplas interpretações podem nos levar a erros catastróficos. Talvez por isso se mata e se morre tanto por questões religiosas. Talvez por isso os especialistas do direito encontram tantas brechas nas leis. Talvez por isso a gente pense diferente e discuta maneiras diferentes de se chegar ao mesmo objetivo. O "talvez por isso" que pode mudar nossa vida  de forma inimaginável.

Quando estamos fragilizados e ainda presos ao fim de uma relação, partir pra outra nos remete automaticamente a outra pessoa em nossas vidas. Como substituir um ator no meio de uma temporada de teatro. Mesmo texto, mesmos cenários, mesmos personagens, só muda o artista. E é aí que muita gente se desespera no discurso do não-consigo-ficar-sozinho-preciso-de-alguém-e-vai-ser-agora.

Começa então aquela jornada interminável nos aplicativos, baladas, festas super animadas e aquela vontade imensa de estar na cama, organizando as ideias. Mas não aceitam nada menos que a felicidade intensa. Logo você, a figura mais animada da turma, a que organiza churrascos, que propõe viagens de última hora e inventa qualquer motivo pra um happy hour. Logo você vai querer ficar em casa? Vai. Logo você vai trocar um barzinho com os amigos por um livro? Vai. Logo você vai se deixar abater por algo que nem se oficializou? Vai.

Isso porque partir pra outra nem sempre significa outra pessoa. Pode ser outra oportunidade, outra visão das coisas, outra vida. E partir pra outra implica automaticamente em sair da mesma. É aprender com o que passou para que repense seus erros e aprimore seus acertos. É notar o que antes passava batido. É pensar que não dá mais pra voltar ao que era. E, principalmente, entender a não fazer isso pelos outros, mas por você.


Mas outra cerveja, outro abraço amigo e outra história, estão permitidos.