segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Tudo que eu posso te desejar




Todo ano é mesma coisa. A poucos dias de começar um novo ciclo de 365 dias em que todos dão os votos de felicidade, saúde, paz, dinheiro e outras benevolências, eu caminho na direção contrária. Prospecções são importantes para traçar metas e tomar atitudes para que elas se concretizem, mas acredito que só há evolução quando olhamos para o que passou e tiramos alguma lição.

Antes que 2013 comece, meu desejo é que você olhe para trás.

Olhe para trás e contabilize as pessoas que dividiram com você momentos importantes deste ciclo. Quantas chegaram? Quantas partiram? Quantas te surpreenderam? Quantas te decepcionaram? Viver é uma viagem e devemos escolher de forma sábia quem serão nossos companheiros de aventuras.

Olhe para trás e reveja suas metas e objetivos traçados no fim do ano anterior. Foram todos alcançados? Se a resposta for um sonoro “sim”, comece a se preocupar. Vivemos em constante mutação e enquanto os dias passam, vêm com eles novos sonhos e objetivos e é isso que nos mantém vivos. Qual o sentido de olhar adiante se tudo o que eu quero ficou para trás? Então, desejo que no ano que está por vir você tenhas muitos sonhos e, se eles não se realizarem, espero que sonhe mais e mais. Viver é saber que podemos tirar os pés do chão.

Olhe para trás e repense suas atitudes com você mesmo. Alguns de nós têm o hábito de se doar para o próximo – o que não deixa de ser uma atitude louvável -, mas esquecem de si. Desejo que você seja seu melhor amigo neste ano que está saindo do forno. Que mesmo sendo um só, não seja sozinho. Que aprenda a sair de casa sem rumo, caminhe descalço na grama, veja o pôr do sol, aprecie e sinta a presença da pessoa mais importante do mundo: você. Viver é ser protagonista da própria vida.

Olhe para trás reflita sobre seus desperdícios, principalmente o do tempo. Apesar de paradoxo, cada dia a mais é um dia a menos e algumas coisas se perdem no meio do caminho. Cada dia que você perde em um trabalho que não te faz feliz, boas oportunidades de felicidade se fecham sem que você perceba. Cada dia que você perde sem perdoar um amigo que te magoou é um dia a menos de confidências e risadas ao telefone. Cada dia que você passa insistindo em algo que não te faz realmente feliz, diminuem as chances de algo novo e bom surgir. A gente morre cada vez que se arrepende de algo que não fizemos. Viver é justamente o contrário.

Depois de tanto olhar para trás é normal que o pescoço doa. Isso é intencional para que possamos aprender que olhar para trás quase sempre dói, mas é a dor necessária que precisamos para olhar para frente e fazer diferente a cada ciclo iniciado. Embora já não seja cedo, nunca é tarde para começarmos a mudar.

Para 2013 eu só posso desejar uma coisa: VIDA.

O resto vem.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Celebrate good times, come on!




Hoje pela manhã realizei um sonho de décadas: vivi uma cena de comercial de margarina. Estava indo para o trabalho de carro e ouvindo minhas músicas, como de costume, quando o shuffle me surpreendeu com o hit Celebration do Kool & the Gang. Fui tomado por uma energia que ainda não sei explicar e não me contive: cantei a plenos pulmões. Mas o melhor momento foi quando eu, preso no engarrafamento e hipnotizado pela música, não percebi que berrava os refrãos em frente a um ponto de ônibus onde havia cerca de 10 pessoas, todas rindo.

Ao contrário do que possam pensar, não me pareciam deboches, mas sintomas do contágio da alegria que sentia ao cantar. Não eram risos, mas SORRISOS. Dentre todos os que estavam ali, um em especial me chamou a atenção. Era de um senhor no auge de seus 60 anos que, ao me olhar, levantou seu dedo polegar e balbuciou um “bom dia”, um dos mais sinceros que já vi. Respondi com um sorriso ainda maior e pensei: este deve ter aproveitado cada hit desta época de tantos sucessos musicais. Estranho como ainda hoje me sinto deslocado por não ter nascido na década de 60, curtido a de 70 e caído nos embalos dos anos 80.

Incrível como o simples fato de ouvir e cantar uma música, coisa que faz parte do meu roteiro diário, possa soar como algo fora do cotidiano. Às vezes sinto que há um consenso de que pessoas que vivem no meio urbano devem ser obrigatoriamente sisudas. Triste mesmo é saber que a alegria não é rotina e que existe tanta gente de alma pesada. Musica faz bem para a saúde, deixa a alma leve e ativa os neurônios. Existem até terapias que usam a música para estimular pacientes em coma ou em estado vegetativo. Medicamento sem contra indicações.

Estar em evidência nem sempre é uma vantagem, mas no meu caso foi. Se com minha musica alta e meus berros desafinados eu pude arrancar sorrisos e talvez melhorar o dia de alguém, pra mim já valeu a pena. Se pudesse escolher uma missão seria esta: contribuir para alegria alheia. Sei que não sou ator, não tenho veia cômica e muito menos levo jeito para palhaço, mas quero sempre, ao meu jeito, garimpar sorrisos. Isso me faz feliz. Poderia envelhecer fazendo isso.

Se for para ter rugas, que seja de tanto sorrir. Se for para perder o controle e chorar, que seja em gargalhadas. Se for para se perder, que seja em uma música que te traz boas recordações. Se for para se achar, que seja nos pequenos gestos que fazem de você uma pessoa melhor. Se for para evitar pessoas, que sejam aquelas que trazem energias negativas. Por fim, que todos os beijos sejam de amor, que todos os abraços sejam com respeito, que todas as vozes cantem a alegria e, mais que tudo, que todos os sorrisos sejam sinceros e venham da alma.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

What are you missing for?


Saudade nada mais é do que a mágica da separação de corpo e mente. Onde quer que esteja, seu pensamento desafia as leis da física e se transporta para outro ponto e, quando você cai em si, o corpo sente. O peito aperta, o coração acelera, os olhos pairam no horizonte.

Saudade é urgência
Um querer inconsequente
Saber o que se quer
Querer o que se sabe
Gostar do que deseja
Desejo que no coração não cabe

Saudade é bicho solto
Corre nos vales do pensamento
Alimenta-se de memórias
Bebe na fonte do sentimento
Sobrevive de fatos na história
Vive na busca do momento

Saudade é presente que ninguém quer
Inimiga do tempo
Sonha com o além
Ignora o agora
Criança que quer crescer
Mas de brincar ela adora

Saudade boa é saudade morta.

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Querido leitor


Não sou adepto à produção industrial da arte. Na verdade, não me considero um artista pelo simples fato de escrever e postar pensamentos soltos e algumas doses de senso comum em meu blog. Encaro isso como uma forma de desabafo e uma higienização da alma, onde coloco tudo o que penso e sinto. Livre de julgamentos alheios, gente torcendo o nariz e falhas de comunicação - não escrevo de forma linear e incessante. Leio, releio, volto, apago, edito, acrescento... Minha receitinha de bolo.

Pode soar egoísta, mas escrevo para mim. São as minhas impressões, opiniões e pitacos sobre determinadas coisas. E isso não significa que eu seja dono de verdade alguma, mas se você concorda comigo, grato. Também não escrevo para alguém, mas às vezes – e quando me dá vontade – dedico textos a pessoas que conheço e gosto, ainda assim sob meu prisma. Não adianta, cronistas, poetas e escritores só pensam em seus próprios umbigos. Caso contrário, a arte fica morta.

Escrevo no meu ritmo e quando tenho inspiração. Já me forcei a escrever sem vontade e o resultado foi desastroso, caindo naquela caixinha de coisas que se esconde e não mostra a ninguém. Não cobre, não me pressione, não me pergunte por que blog está criando teias: ele só reflete o que se passa em mim. Se lhe faltam atualizações, logo, também minha cabeça.  

Ao contrário do que pensam, a arte do escritor é TRANSCREVER. Muito mais do que uma simples combinação de letras, a verdade do artista está na cabeça e no coração e seu objetivo não é escrever para o leitor, mas sim fazer com que compartilhem um mesmo ponto de vista. Transmitir o que se pensa e sente é mais visceral do que meramente prático.


quinta-feira, 25 de outubro de 2012


Hoje, e só hoje, não penso. Eu sinto. O problema é que não sei o que sinto e muito menos classifico como bom ou ruim. Incomoda, arde, perturba. Talvez não compreenda por sentir enquanto deveria pensar. Mas isso hoje não me cabe.
Vez em quando preciso de tormentas.  Terminar este texto de forma racional seria uma forma de...  Viu! Mal consigo terminar a frase, quiçá esta etapa.

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Welcome to the highway




Pensamento é movimento. É como guiar um carro em uma auto estrada. Devemos sempre manter uma velocidade constante e segura. Nem tão rápido que não possamos apreciar a paisagem, nem tão devagar que atrapalhe os que vêm atrás. Mas antes de cair nesta estrada, verifique seu veículo. Cheque amortecedores para eventuais impactos, dê uma olhada nos faróis para que iluminem até nas mais fortes tempestades e principalmente verifique os freios para saber a hora de reduzir o ritmo.

Não se esqueça de abastecer com inspiração, amor, lembranças e um pouco de nostalgia. Nosso carro é flex.  Ao contrário dos tradicionais, quanto mais longe do ano de fabricação, mais segurança temos ao pegar a estrada do pensamento. Estabilidade nas curvas, visibilidade em neblinas e sistema de absorção de impactos são características de veículos mais antigos. As vezes pedem em design para os veículos recém chegados, mas em compensação seu desempenho é sempre melhor e cabe a nós saber em que vamos investir ao longo da vida. 


Escolha bem seus companheiros de viagem. São eles que te ajudarão a trocar um pneu em dias de tempestade, estarão ao seu lado se porventura a bateria arriar e darão aquele empurrãozinho para que o seu veículo pegue no tranco. Eles são habilitados a te conduzir quando estiveres cansado e sempre trazem a mão um caderninho com telefones de urgência. Primeiros socorros? São especialistas. Curam dores com flores.

As vezes permitimos que outros percorram nossa estrada, peguem atalhos e abram seus próprios desvios, mas esquecemos que o caminho é nosso e somos os únicos responsáveis pela manutenção e, principalmente, pela sinalização da rodovia. Estrada sem placas indicativas é terra de ninguém onde quem chega faz o que quer e não se responsabiliza pelos danos que causou. Por isso, escolha bem quem você deixa passar pela chancela de entrada e sinalize muito bem o trecho pavimentado.

Se eu pudesse te dar um conselho, este seria: respire fundo, movimente-se, libere o fluxo. Boas notícias só chegam quando as más dão passagem.

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Climas, estações e amigos





Poucos dias atrás conversava com um grande amigo sobre nossos comportamentos sentimentais e como eles - por coincidência ou não - têm características semelhantes às estações do ano. Uma observação boba, feita numa conversa informal e que pouco dei importância, mas agora me atinei ao óbvio oculto: meu humor varia de acordo com o clima. Logo eu que sempre me gabei por ser sempre constante e de humor pouco variável.

Dias de sol me deixam insupotavelmente bem humorado. São os dias que me sinto disposto a realizar programas diurnos como passeios em parques, sítios, visitas aos amigos e outros programas que exigem ou implicam em sorrisos, amenidades e muita disposição.  Protagonizo um comercial de margarina em que o produto sou eu, pois faço questão que me vejam feliz quando realmente estou.

Dias chuvosos me causam melancolia. Uma vontade de ser triste mesmo sem motivos. Talvez por sentir a chuva como uma forma de purificar as ideias que respiro, o ar que prendo no peito e as águas que solto pelos olhos. Elas brotam. Acumuladas, gritam pra sair e as vezes sinto a garganta trovejando, como se o peito absorvesse os impactos dos raios. Fico impaciente, também. Detesto me molhar fora de piscinas ou chuveiros. Impaciente comigo, pela chuva mostrar um lado frágil que todos teimamos em esconder. 

Dias cinzas, como hoje, me deixam opaco, sem vida e com uma vontade imensa de mudar algo que ainda não defini o que é. Posso ter todos os motivos do mundo para estar feliz, mas sinto que alguma coisa está errada. Hoje, após anos, descobri: dias nublados me inspiram a soltar a imaginação no papel. Ideias pipocam na cabeça e me dá agonia pensar demais e não materializar o que se passa aqui dentro. É aí que escrevo, penso, choro, reflito, mudo. Nuvens carregadas ameaçam chuva e também apontam que na tempestade dos pensamentos, meu solo seja preparado para o novo - que ainda não sei.

Climas, estações e amigos não precisam estar sempre ao alcance das mãos. Climas, estações e amigos são sinais de que tudo se renova, até o que parece imutável. Climas, estações e amigos, quaisquer que sejam, nos levam ao auto conhecimento. Climas, estações e amigos mudam, se transformam, vão, vem, estão e, principalmente, são. Exercem a mais bela função do verbo "ser" e ouso dizer que são igualmente essenciais na exploração do meu terreno.


segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Brasilidade




Se pudesse me definir em apenas uma palavra, esta seria brasileiro. Possuo traços marcantes de brasilidade nesse meu jeito que às vezes penso ter nascido no país errado. Um Brasil onde existem inúmeros problemas e questões a ser resolvidas, claro, mas entre os vários pontos de visa, me apego ao melhor. Um país onde grande parte da população sente vergonha de pertencer, mas que, num movimento totalmente inverso, pessoas do mundo inteiro querem morar. Talvez pelo fato de que somos péssimos em marketing pessoal.

Acompanhei ontem a cerimônia de encerramento dos Jogos Olímpicos de Londres e me deparei com um belíssimo espetáculo que, além dos ótimos shows, apresentou as belezas de uma das cidades mais visitadas do mundo. O interessante é que a população londrina sente orgulho de morar em uma cidade sem cor, sem sol, onde as pessoas são frias, tristes e um simples olhar é considerado ofensa. Sem desmerecer seus belíssimos pontos turísticos e sua história, já ouvi dizer que Londres é cidade de gente amarga.

Já nós, brasileiros, que enfrentamos os mais diversos problemas econômico-sociais distribuímos e retribuímos sorrisos gratuitamente. Temos um dos melhores climas do mundo, estamos longe das fendas de placas tectônicas, vulcões, furacões e terremotos são realidades distantes. Isso sem falar do nosso maior patrimônio: nosso povo. Posso conhecer poucas culturas e nunca ter cruzado fronteiras internacionais, mas por relatos de pessoas próximas, ouso dizer que somos privilegiados.

Tenho uma grande amiga que considero uma das pessoas mais fantásticas e cultas que cruzaram meu caminho. Nascida no Líbano, mudou-se para o Brasil ainda criança e teve a oportunidade de conhecer os mais variados lugares deste mundo. Em uma de nossas conversas, ela disse que não existe lugar melhor pra se viver que o Brasil. Segundo ela, somos um povo que leva uma vida leve e sem preocupações em demasia e que apesar de tudo, sabemos aproveitar a vida.

Nosso marketing pessoal é tão fuleiro que desde pequeno aprendemos a odiar um lugar tão belo enquanto os chineses, por exemplo, veneram seu país onde a imprensa é censurada, ainda existe trabalho escravo e o governo controla todas suas ações. Longe de mim me cegar pelos problemas que nos assolam, mas como diz meu pai: cuide bem do que lhe foi dado, independente do estado. Posso estar contra uma legião de internacionalistas, mas minha brasilidade ainda grita dentro de mim e me faz amar este país que chamo de lar.

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

O grito dos excessos




Engraçado como é tênue a linha que separa a virtude do defeito. É receitinha de bolo: uma pitada de fermento a mais ou a menos faz toda a diferença. Suponhamos que você tenha um amigo super alto astral, gente fina e que sempre te surpreende com uma piada. Quem não quer a leveza de uma companhia assim? Mas alegria em demasia, sem limites, vira babaquice.

Aquele colega de faculdade que sempre lhe chama pra beber uns chopes, é uma ótima companhia para um happy hour e sempre recomenda os bares mais interessantes. As horas passam, fica tarde e ele insiste em ficar. Podem até achar que é disposição, eu chamo de exagero. Bares são locais de convenções sociais e não uma casa de tolerância a vícios.

Seu marido é daquele tipo de homens introvertidos, de poucas palavras, mas que quando abre a boca é como se valesse a pena cada minuto de silêncio. Sábio, mergulha nos livros de autoajuda, romances e em tudo que lhe parece Cult. Tudo bem, você o conheceu assim e não vai ser hoje que isso vai mudar. Mas silêncio demais significa ausência na presença. Você chama os amigos pra um churrasco e ele continua lá, estático. Até seus móveis são mais expressivos que o homem que você escolheu para dividir seus dias.

 Nosso eterno Cazuza se auto declarava “Exagerado” e entoava canções que falavam de revoltas e corações partidos. Vai ver que lá, naquele coração, alguém gritava por socorro e a forma mais autêntica de se chamar atenção era por seus excessos. Gritou, bradou, causou tanto que, talvez por isso, morreu de forma prematura.

Considero os exageros como gritos de atenção. Pode ser que o amigo que brinca demais quer se esconder dos problemas do trabalho que ele detesta. Talvez o colega de faculdade que bebe muito por estar fugindo da dor do término do seu namoro de 9 anos. Às vezes seu marido é calado assim por traumas sofridos na infância nas mãos de um pai cruel e uma mãe submissiva. Cada um com seu sagrado do passado. Mas afinal, quem não tem?


terça-feira, 31 de julho de 2012

Os laços do acaso



A fórmula parece ser simples. Você toma um banho rápido, se arruma pra festa como quem vai pra padaria e, quando menos se espera, conhece aquela pessoa que abala suas estruturas e pode fazer parte dos seus dias por um bom tempo, se for de comum acordo. Mas logo hoje, Santo Antônio? Logo hoje que deixei a barba por fazer, usei aquela camisa relaxada de tanto usar e apareceu aquela espinha bem no meio da testa? O acaso não é adepto a previsibilidades.

Aquela troca de olhares, barriga pra dentro, peito pra fora e sua coluna ereta como um mastro. Ih, ele fuma! Não é uma das coisas que você apreciaria no homem ideal, mas não custa nada tentar. Até que, naquele impulso de coragem, vocês começam a conversar. Poucas palavras, muitos olhares e tão logo estão lá vocês, se beijando. Há quem perguntava se eram um ou dois com tamanha interação entre os corpos. O cigarro e as vestes dele, demasiadamente estranhas, já não eram nada. Você já se rendeu àquele beijo que parou o mundo.

Trocaram telefones, se ligaram e tão logo já estavam se encontrando num bar qualquer pra se conhecer melhor. Blá blá blá, conversas e auto definições e, mais uma vez, aquele beijo no carro. O mesmo beijo que te faz perder o rumo de casa. E aquela paixão fulminante foi tomando conta e em apenas três semanas, viveram loucuras que casais juntos há trinta anos não fizeram. E como foi bom.

Novamente o acaso entra em ação. Se antes foi pra ajudar, agora ele passa uma rasteira daquelas de deixar pouca coisa em pé. Palavras, atos e desvios separam o que parecia estar consolidado. O tempo passa, mas o que deveria ser esquecido está mais presente que nunca e a memória se encarrega de machucar o coração de ambos. Poucas ligações não são suficientes para matar a saudade daquela voz ao pé do ouvido, daquele beijo safado com leve gosto de cigarro, da forma como seus corpos se encaixam no abraço e ao dormir de conchinha.

Mas desta vez eles deram férias ao acaso e foram tentar por si próprios. Marcaram um encontro pra saber se ainda bate e pulsa aquela mesma sensação que antes os uniu. Mas tudo é um processo e, desta vez, exige disciplina, esforço e vontade das duas partes. Laços como estes, fragilizados, carecem de forças iguais para que se tornem fortes novamente. O que os resta é esperar que o tempo, o acaso e a paciência sejam generosos.


"É bobagem chorar por laços que parecem desfeitos, mas que continuam firmes. Alguns laços são teimosos. As vezes a gente pensa: 'puf! Lá se foi ele!'. Mas ele vai estar sempre ali, que nem alguns amores."

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Sobre amizade e semântica


Que os defensores da boa gramática não nos ouçam, mas para mim, amigo não é substantivo. Amigo é verbo. Ninguém nasce amigo. Este título é conquistado por atos, palavras, silêncios, olhares, risos, choros... movimento. Quer palavra melhor para definir tão belo vocábulo? Amigos causam movimentos na alma e no coração. Se conhecem, se divertem, se consagram, se mudam, se ligam, se encontram.
Com suas mais diversas conjugações, amigo transita facilmente entre os tempos verbais e, sem que possamos perceber, se situa no passado, presente e futuro sem necessidade de alterações. Usam da prosopopeia ao resumir diálogos inteiros com apenas um olhar, “hiperbolizam” ao dar aquele conselho milhões de vezes e não são muito adeptos de eufemismos. Amigo que é amigo fala rasgado, em alto e bom tom.

Um ser sem amigos é sujeito sem predicado, verbo que não conjuga, pronome indefinido. Colegas são falsos amigos, pois não conseguem se conjugar no futuro. Amigos definem nosso caráter, interferem no nosso destino, moldam nossa história. Sujeito que não se relaciona é oculto na sentença da vida.

Tanta gramática pra definir algo tão simples e tão concreto. Tudo isso pra desejar que hoje, dia internacional do amigo, você saiba valorizar quem realmente está ao seu lado.  Que juntos possam dominar o mundo ou apenas tomar uma cerveja num fim de tarde, mas que tenham momentos inesquecíveis. Que assim como qualquer relação humana, ambos saibam reconhecer sua importância e não deixar que a chama se apague. Pois sim, amigo é verbo.

quarta-feira, 18 de julho de 2012

As palavras que a boca não diz


Difícil é começar a verbalizar quando se tem muito a dizer. Seja dizendo, escrevendo ou demonstrando, quase sempre metemos os pés pelas mãos ao tentar passar para o outro aquilo que está dentro de nós e clama pra sair. Olhares para o horizonte, silêncios e inquietudes se transformam em atitudes involuntárias e, por mais que tentamos, eles estão sempre presentes. Boca seca, mão fria e até aquela síndrome das pernas inquietas, tudo isso para ser honesto com o outro e o deixar consciente da situação.
Você está ali, vulnerável e nu. Despido de quaisquer convenções ou máscaras que escondam a verdade. Qualquer punhalada ou golpe não previsto atravessará sua carne e atingirá direto o coração, causando uma hemorragia que dói, e como dói. Mas força, você precisa dizer, ele precisa ouvir e, por mais que não queiram, alguém há de se ferir.
O problema está quando a honestidade que você tanto preza se transforma em via de mão única não vem da outra parte. Quando há coisas a se dizer e, por algum motivo, não são verbalizadas. Quando é mais que notório que algo aconteceu ou está prestes aconteceu e então... silêncio. Um silêncio que grita, perturba, tira o sono e a paz. Um silêncio que era pra ser sinônimo de vazio e, ao contrário, significa muito a se dizer, muito a se sentir, mas falta coragem.
Pausas como estas nos deixam insones e dão margem para uma série de questionamentos e uma infinidade de histórias inventadas. As mais trágicas, diga-se de passagem. Mas, guardadas as devidas proporções, você não passa de um mero ouvinte e lhe cabem duas alternativas: relevar e pensar que, de fato, não seja nada, ou então ir em busca da verdade. Mas, meu amigo, caso tenha escolhido a segunda alternativa, prepare-se, pois pode ser a reclamação mais infantil e infundada ou a realização das tuas temidas histórias inventadas.