Engraçado como é tênue a linha
que separa a virtude do defeito. É receitinha de bolo: uma pitada de fermento a
mais ou a menos faz toda a diferença. Suponhamos que você tenha um amigo super
alto astral, gente fina e que sempre te surpreende com uma piada. Quem não quer
a leveza de uma companhia assim? Mas alegria em demasia, sem limites, vira
babaquice.
Aquele colega de faculdade que
sempre lhe chama pra beber uns chopes, é uma ótima companhia para um happy hour
e sempre recomenda os bares mais interessantes. As horas passam, fica tarde e
ele insiste em ficar. Podem até achar que é disposição, eu chamo de exagero. Bares
são locais de convenções sociais e não uma casa de tolerância a vícios.
Seu marido é daquele tipo de
homens introvertidos, de poucas palavras, mas que quando abre a boca é como se
valesse a pena cada minuto de silêncio. Sábio, mergulha nos livros de autoajuda,
romances e em tudo que lhe parece Cult. Tudo bem, você o conheceu assim e não
vai ser hoje que isso vai mudar. Mas silêncio demais significa ausência na
presença. Você chama os amigos pra um churrasco e ele continua lá, estático.
Até seus móveis são mais expressivos que o homem que você escolheu para dividir
seus dias.
Nosso eterno Cazuza se auto declarava “Exagerado”
e entoava canções que falavam de revoltas e corações partidos. Vai ver que lá,
naquele coração, alguém gritava por socorro e a forma mais autêntica de se
chamar atenção era por seus excessos. Gritou, bradou, causou tanto que, talvez
por isso, morreu de forma prematura.
Considero os exageros como gritos
de atenção. Pode ser que o amigo que brinca demais quer se esconder dos
problemas do trabalho que ele detesta. Talvez o colega de faculdade que bebe muito
por estar fugindo da dor do término do seu namoro de 9 anos. Às vezes seu
marido é calado assim por traumas sofridos na infância nas mãos de um pai cruel
e uma mãe submissiva. Cada um com seu sagrado do passado. Mas afinal, quem não
tem?
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