Me sinto vitorioso no dia em que
consigo cumprir todos os compromissos, ou pelo menos os mais importantes. Mas
nem sempre foi assim. Quem me conhece sabe habita em mim a alma de um idoso e a
energia de um reumático. Não que eu me orgulhe disso, mas cada um enfrenta a
vida da maneira que lhe traga mais paz. Há quem se submeta a intervenções e
cirurgias para aparentar uma eterna juventude, há quem trabalhe insanamente
para esquecer dos problemas e há pessoas como eu que vão contra a pressa que o
relógio impõe.
Ser idoso de alma me permite
certos álibis. É não me importar com os padrões que a sociedade me impõe e não
sentir a necessidade de me enquadrar neles. É saber dizer não a um amigo que me
chama pra uma balada simplesmente porque não estou a fim de sair. É me
respeitar mais do que respeitar os outros. É saber que tudo tem limite,
inclusive meu corpo. É ver que o tempo passou e me orgulhar de tudo que aprendi
até aqui.
É saber que só porque ainda não
cheguei onde eu quis não quer dizer que não possa momentos de imensa felicidade.
É saber a diferença entre dinheiro e valor, e que ambos não estão
necessariamente associados. É saber
reconhecer um momento mágico e apreciar antes que ele acabe. É cantar alto
enquanto dirijo e pouco me lixar para o motorista do carro ao lado que me
observa com ares de deboche (quase sempre com uma ponta de inveja). É saber que
estou mais sábio, mas mesmo assim não sei de nada.
É saber que as relações que
estabeleço não são amarras e muito menos justificativas para não ser quem eu
sou. É ter a clara noção de que a única pessoa que pode me fazer feliz sou eu
mesmo. É me aceitar do jeito que sou e saber que quem anda comigo, vai me
conhecer assim e me compreender assim. É não ter ideia fixa. É compreender que
as palavras “nunca” ou “sempre” trazem uma responsabilidade que dificilmente
serão cumpridas. É me conformar que tudo é efêmero, inclusive o tempo.
É ter a conformidade de passar os
dias com calma, aceitando que a vida é um processo, não um produto. Se alguns
encaram o passar do tempo como uma corrida em direção ao fim, eu apenas encaro
como uma permanência plena no meio. Pois no fim, de verdade, só está quem já se
sente lá.