A fórmula parece ser simples.
Você toma um banho rápido, se arruma pra festa como quem vai pra padaria e,
quando menos se espera, conhece aquela pessoa que abala suas estruturas e pode
fazer parte dos seus dias por um bom tempo, se for de comum acordo. Mas logo
hoje, Santo Antônio? Logo hoje que deixei a barba por fazer, usei aquela camisa
relaxada de tanto usar e apareceu aquela espinha bem no meio da testa? O acaso
não é adepto a previsibilidades.
Aquela troca de olhares, barriga
pra dentro, peito pra fora e sua coluna ereta como um mastro. Ih, ele fuma! Não
é uma das coisas que você apreciaria no homem ideal, mas não custa nada tentar.
Até que, naquele impulso de coragem, vocês começam a conversar. Poucas
palavras, muitos olhares e tão logo estão lá vocês, se beijando. Há quem perguntava
se eram um ou dois com tamanha interação entre os corpos. O cigarro e as vestes
dele, demasiadamente estranhas, já não eram nada. Você já se rendeu àquele
beijo que parou o mundo.
Trocaram telefones, se ligaram e
tão logo já estavam se encontrando num bar qualquer pra se conhecer melhor. Blá
blá blá, conversas e auto definições e, mais uma vez, aquele beijo no carro. O
mesmo beijo que te faz perder o rumo de casa. E aquela paixão fulminante foi
tomando conta e em apenas três semanas, viveram loucuras que casais juntos há
trinta anos não fizeram. E como foi bom.
Novamente o acaso entra em ação.
Se antes foi pra ajudar, agora ele passa uma rasteira daquelas de deixar pouca
coisa em pé. Palavras, atos e desvios separam o que parecia estar consolidado.
O tempo passa, mas o que deveria ser esquecido está mais presente que nunca e a
memória se encarrega de machucar o coração de ambos. Poucas ligações não são
suficientes para matar a saudade daquela voz ao pé do ouvido, daquele beijo
safado com leve gosto de cigarro, da forma como seus corpos se encaixam no abraço
e ao dormir de conchinha.
Mas desta vez eles deram férias
ao acaso e foram tentar por si próprios. Marcaram um encontro pra saber se
ainda bate e pulsa aquela mesma sensação que antes os uniu. Mas tudo é um
processo e, desta vez, exige disciplina, esforço e vontade das duas partes.
Laços como estes, fragilizados, carecem de forças iguais para que se tornem
fortes novamente. O que os resta é esperar que o tempo, o acaso e a
paciência sejam generosos.
"É bobagem chorar por laços que parecem desfeitos, mas que continuam firmes. Alguns laços são teimosos. As vezes a gente pensa: 'puf! Lá se foi ele!'. Mas ele vai estar sempre ali, que nem alguns amores."