Não faz muito
tempo que ouvíamos a expressão “lugar de mulher é na cozinha”. Há poucas
décadas, um portador de necessidades especiais era considerado incapaz a
concorrer no mercado de trabalho. Outrora, qualquer cidadão que tivesse nascido
pobre, tinha a certeza de que seria pobre até o fim de seus dias. Hoje a
mulherada deixou o avental e está alcançando altos cargos no mundo corporativo,
os deficientes mostraram seu valor e, quem diria, tem filho de pobre virando
doutor. Mas a que se deve isso?
Muitos atribuem
essas mudanças à modernidade, à globalização ou à simples evolução da raça
humana. Eu considero esses avanços o resultado do desuso do coitadismo.
Enquanto estava enraizado o pensamento opressor do “você não tem capacidade”,
pouco evoluímos. Mas quando pouco a pouco nos libertamos dessas amarras, vimos
que qualquer um de nós – independente da condição imposta pela vida ou pela
sociedade – é capaz de coisas antes inimagináveis. Coitadismo acomoda.
Coitadismo paralisa. Coitadismo nos faz pensar que não existe nada além daquilo
que já temos como certo.
É claro que
essas mudanças não acontecem de forma linear em todos os indivíduos. Algumas
comunidades ainda engatinham enquanto outras andam a passos largos a fim de
universalizar acessos, equilibrar poderes e igualizar vozes. A ganhadora do
último Nobel da Paz, Malala Yousafzai, é um dos maiores exemplos atuais de
alguém que não usou o discurso da autopiedade e luta pelo direito a educação
para as mulheres paquistanesas. Mesmo sofrendo uma tentativa de homicídio, leva
em frente seus ideais.
Malala trava
uma guerra pelo direito à educação para mulheres; Harvey Milk lutou pelos
diretos da comunidade LGBT; Nicholas James Vujicic não tem braços nem pernas,
mas é tão brilhante que se tornou um dos maiores palestrantes motivacionais do
mundo, sendo capaz de lançar seu próprio livro. Apenas três de vários exemplos
de quem deixou de se esconder para mostrar ao mundo não só suas batalhas, mas
suas vitórias.
Pode parecer
pouco, mas pequenas demonstrações de coitadismo contribuem bastante para a
discriminação e desigualdade. Sentir pena do pobre não o ajuda a se dar bem na
vida; cercar de cuidados um deficiente não o fará vencer nenhum obstáculo;
considerar a mulher como sexo frágil é perigoso e pode incitar - mesmo que
indiretamente - a violência doméstica. Defender é válido, mas melhor ainda é
considerar a pessoa capaz de ultrapassar seus próprios desafios. É hora de
pensar nas formas como interpretamos para que haja mudanças efetivas na forma
como agimos.