quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

COITADISMOS

Não faz muito tempo que ouvíamos a expressão “lugar de mulher é na cozinha”. Há poucas décadas, um portador de necessidades especiais era considerado incapaz a concorrer no mercado de trabalho. Outrora, qualquer cidadão que tivesse nascido pobre, tinha a certeza de que seria pobre até o fim de seus dias. Hoje a mulherada deixou o avental e está alcançando altos cargos no mundo corporativo, os deficientes mostraram seu valor e, quem diria, tem filho de pobre virando doutor. Mas a que se deve isso?


Muitos atribuem essas mudanças à modernidade, à globalização ou à simples evolução da raça humana. Eu considero esses avanços o resultado do desuso do coitadismo. Enquanto estava enraizado o pensamento opressor do “você não tem capacidade”, pouco evoluímos. Mas quando pouco a pouco nos libertamos dessas amarras, vimos que qualquer um de nós – independente da condição imposta pela vida ou pela sociedade – é capaz de coisas antes inimagináveis. Coitadismo acomoda. Coitadismo paralisa. Coitadismo nos faz pensar que não existe nada além daquilo que já temos como certo.


É claro que essas mudanças não acontecem de forma linear em todos os indivíduos. Algumas comunidades ainda engatinham enquanto outras andam a passos largos a fim de universalizar acessos, equilibrar poderes e igualizar vozes. A ganhadora do último Nobel da Paz, Malala Yousafzai, é um dos maiores exemplos atuais de alguém que não usou o discurso da autopiedade e luta pelo direito a educação para as mulheres paquistanesas. Mesmo sofrendo uma tentativa de homicídio, leva em frente seus ideais.


Malala trava uma guerra pelo direito à educação para mulheres; Harvey Milk lutou pelos diretos da comunidade LGBT; Nicholas James Vujicic não tem braços nem pernas, mas é tão brilhante que se tornou um dos maiores palestrantes motivacionais do mundo, sendo capaz de lançar seu próprio livro. Apenas três de vários exemplos de quem deixou de se esconder para mostrar ao mundo não só suas batalhas, mas suas vitórias.


Pode parecer pouco, mas pequenas demonstrações de coitadismo contribuem bastante para a discriminação e desigualdade. Sentir pena do pobre não o ajuda a se dar bem na vida; cercar de cuidados um deficiente não o fará vencer nenhum obstáculo; considerar a mulher como sexo frágil é perigoso e pode incitar - mesmo que indiretamente - a violência doméstica. Defender é válido, mas melhor ainda é considerar a pessoa capaz de ultrapassar seus próprios desafios. É hora de pensar nas formas como interpretamos para que haja mudanças efetivas na forma como agimos.