quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Climas, estações e amigos





Poucos dias atrás conversava com um grande amigo sobre nossos comportamentos sentimentais e como eles - por coincidência ou não - têm características semelhantes às estações do ano. Uma observação boba, feita numa conversa informal e que pouco dei importância, mas agora me atinei ao óbvio oculto: meu humor varia de acordo com o clima. Logo eu que sempre me gabei por ser sempre constante e de humor pouco variável.

Dias de sol me deixam insupotavelmente bem humorado. São os dias que me sinto disposto a realizar programas diurnos como passeios em parques, sítios, visitas aos amigos e outros programas que exigem ou implicam em sorrisos, amenidades e muita disposição.  Protagonizo um comercial de margarina em que o produto sou eu, pois faço questão que me vejam feliz quando realmente estou.

Dias chuvosos me causam melancolia. Uma vontade de ser triste mesmo sem motivos. Talvez por sentir a chuva como uma forma de purificar as ideias que respiro, o ar que prendo no peito e as águas que solto pelos olhos. Elas brotam. Acumuladas, gritam pra sair e as vezes sinto a garganta trovejando, como se o peito absorvesse os impactos dos raios. Fico impaciente, também. Detesto me molhar fora de piscinas ou chuveiros. Impaciente comigo, pela chuva mostrar um lado frágil que todos teimamos em esconder. 

Dias cinzas, como hoje, me deixam opaco, sem vida e com uma vontade imensa de mudar algo que ainda não defini o que é. Posso ter todos os motivos do mundo para estar feliz, mas sinto que alguma coisa está errada. Hoje, após anos, descobri: dias nublados me inspiram a soltar a imaginação no papel. Ideias pipocam na cabeça e me dá agonia pensar demais e não materializar o que se passa aqui dentro. É aí que escrevo, penso, choro, reflito, mudo. Nuvens carregadas ameaçam chuva e também apontam que na tempestade dos pensamentos, meu solo seja preparado para o novo - que ainda não sei.

Climas, estações e amigos não precisam estar sempre ao alcance das mãos. Climas, estações e amigos são sinais de que tudo se renova, até o que parece imutável. Climas, estações e amigos, quaisquer que sejam, nos levam ao auto conhecimento. Climas, estações e amigos mudam, se transformam, vão, vem, estão e, principalmente, são. Exercem a mais bela função do verbo "ser" e ouso dizer que são igualmente essenciais na exploração do meu terreno.


segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Brasilidade




Se pudesse me definir em apenas uma palavra, esta seria brasileiro. Possuo traços marcantes de brasilidade nesse meu jeito que às vezes penso ter nascido no país errado. Um Brasil onde existem inúmeros problemas e questões a ser resolvidas, claro, mas entre os vários pontos de visa, me apego ao melhor. Um país onde grande parte da população sente vergonha de pertencer, mas que, num movimento totalmente inverso, pessoas do mundo inteiro querem morar. Talvez pelo fato de que somos péssimos em marketing pessoal.

Acompanhei ontem a cerimônia de encerramento dos Jogos Olímpicos de Londres e me deparei com um belíssimo espetáculo que, além dos ótimos shows, apresentou as belezas de uma das cidades mais visitadas do mundo. O interessante é que a população londrina sente orgulho de morar em uma cidade sem cor, sem sol, onde as pessoas são frias, tristes e um simples olhar é considerado ofensa. Sem desmerecer seus belíssimos pontos turísticos e sua história, já ouvi dizer que Londres é cidade de gente amarga.

Já nós, brasileiros, que enfrentamos os mais diversos problemas econômico-sociais distribuímos e retribuímos sorrisos gratuitamente. Temos um dos melhores climas do mundo, estamos longe das fendas de placas tectônicas, vulcões, furacões e terremotos são realidades distantes. Isso sem falar do nosso maior patrimônio: nosso povo. Posso conhecer poucas culturas e nunca ter cruzado fronteiras internacionais, mas por relatos de pessoas próximas, ouso dizer que somos privilegiados.

Tenho uma grande amiga que considero uma das pessoas mais fantásticas e cultas que cruzaram meu caminho. Nascida no Líbano, mudou-se para o Brasil ainda criança e teve a oportunidade de conhecer os mais variados lugares deste mundo. Em uma de nossas conversas, ela disse que não existe lugar melhor pra se viver que o Brasil. Segundo ela, somos um povo que leva uma vida leve e sem preocupações em demasia e que apesar de tudo, sabemos aproveitar a vida.

Nosso marketing pessoal é tão fuleiro que desde pequeno aprendemos a odiar um lugar tão belo enquanto os chineses, por exemplo, veneram seu país onde a imprensa é censurada, ainda existe trabalho escravo e o governo controla todas suas ações. Longe de mim me cegar pelos problemas que nos assolam, mas como diz meu pai: cuide bem do que lhe foi dado, independente do estado. Posso estar contra uma legião de internacionalistas, mas minha brasilidade ainda grita dentro de mim e me faz amar este país que chamo de lar.

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

O grito dos excessos




Engraçado como é tênue a linha que separa a virtude do defeito. É receitinha de bolo: uma pitada de fermento a mais ou a menos faz toda a diferença. Suponhamos que você tenha um amigo super alto astral, gente fina e que sempre te surpreende com uma piada. Quem não quer a leveza de uma companhia assim? Mas alegria em demasia, sem limites, vira babaquice.

Aquele colega de faculdade que sempre lhe chama pra beber uns chopes, é uma ótima companhia para um happy hour e sempre recomenda os bares mais interessantes. As horas passam, fica tarde e ele insiste em ficar. Podem até achar que é disposição, eu chamo de exagero. Bares são locais de convenções sociais e não uma casa de tolerância a vícios.

Seu marido é daquele tipo de homens introvertidos, de poucas palavras, mas que quando abre a boca é como se valesse a pena cada minuto de silêncio. Sábio, mergulha nos livros de autoajuda, romances e em tudo que lhe parece Cult. Tudo bem, você o conheceu assim e não vai ser hoje que isso vai mudar. Mas silêncio demais significa ausência na presença. Você chama os amigos pra um churrasco e ele continua lá, estático. Até seus móveis são mais expressivos que o homem que você escolheu para dividir seus dias.

 Nosso eterno Cazuza se auto declarava “Exagerado” e entoava canções que falavam de revoltas e corações partidos. Vai ver que lá, naquele coração, alguém gritava por socorro e a forma mais autêntica de se chamar atenção era por seus excessos. Gritou, bradou, causou tanto que, talvez por isso, morreu de forma prematura.

Considero os exageros como gritos de atenção. Pode ser que o amigo que brinca demais quer se esconder dos problemas do trabalho que ele detesta. Talvez o colega de faculdade que bebe muito por estar fugindo da dor do término do seu namoro de 9 anos. Às vezes seu marido é calado assim por traumas sofridos na infância nas mãos de um pai cruel e uma mãe submissiva. Cada um com seu sagrado do passado. Mas afinal, quem não tem?