Dentre as milhares de palavras que
compõem nosso alfabeto, algumas demandam mais atenção. Bastam ser mencionadas
que todos ficam alerta, com músculos rígidos e movimentos precisos. Tensão. Mas
as mesmas palavras, quando ditas em outro contexto, denotam carinho e extrema
atenção com algo ou alguém com quem temos afeto. Uma delas, em especial, ouvimos
e dizemos em todas as fases da vida como forma de proteção:
cuidado.
Desde que nascemos, somos
cercados de cuidados. Médicos e enfermeiras preparados para nossa estreia no
mundo, tios ansiosos, avós apreensivos, pai à beira de um ataque de nervos, até
que a gente chega e é mimo pra tudo quanto é lado. Banhos na temperatura certa,
mantas, cobertores, cuidados com o umbigo e com ambientes frios são apenas
alguns dos cuidados que temos em nossos primeiros meses aqui.
Crianças demandam outro tipo de
cuidado, os físicos. Avisos e broncas nos advertindo dos perigos e, mesmo
assim, a gente machuca, rala o joelho, corta a testa, quebra o pé... “Quem não
escuta cuidado, escuta coitado”, frase que pesa como uma bigorna em nossa
consciência. Adolescentes já não se machucam tanto, mas os cuidados agora são com
perigos do mundo. É uma fase de descoberta e que não estamos devidamente
preparados para o que vamos enfrentar, embora tenhamos a plena certeza da nossa
auto-suficiência. Idosos viram crianças e demandam atenções parecidas. Cuidados
para não cair, ao se levantar da cama, ao pisar no chão molhado, ao sair sem
agasalho nos dias frios. São parecidos, embora o processo de recuperação não
seja tão rápido quanto antigamente.
Adultos são os que parecem que
menos precisam de cuidado, mas é onde mora o erro. Focamos tanto nos mais
vulneráveis fisicamente que nos esquecemos de cuidar do principal pilar que nos
sustenta: quem somos. Adultos estão no auge de suas vidas. Possuem objetivos de
curto, médio e longo prazo, trabalho, família, amigos, obrigações consigo mesmo
e com o governo, e uma infinidade de outras responsabilidades. Projetam-se no
futuro, são nostálgicos lembrando-se do passado e se esquecem do poder do
agora.
“Adultos não têm tempo pra cuidar
de si”, pensam. E, de certa forma, estão certos. Se não temos o instinto de
cuidar somente de nós mesmos, então que cuidemos também de outros adultos. É aí
que surgem os laços de amor, tão importantes para nossa convivência. Quem ama
cuida e é por isso que nos atentamos tanto às crianças e idosos. Alguns mais
cuidadosos, outros menos, cada um dá o que pode e acha que deve. Mas se recebo o
cuidado de alguém, por que não retribuir?
Posso optar por relações
efêmeras, na qual cuido de mim e o outro que se dane, não serei a pior pessoa
do mundo por isso. Mas, no fim, qual vai ser minha recompensa? Adultos não
perdem tempo, plantam agora para colher lá na frente, sabem que toda escolha
tem um preço e que este seja o menor possível. Na natureza isso tem nome:
mutualismo. Como bons mamíferos que somos, que possamos aprender com nossos semelhantes.