segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

O melhor que poderia ser



Inspiração é um bicho danado. Aparece nas horas mais improváveis e quase sempre nos pega desprevenidos. Para os fotógrafos, a bateria da câmera acabou. Para os músicos, o único violão disponível se encontra com 3 cordas arrebentadas. Para quem escreve é pior: a inspiração vem na rua, no ônibus lotado ou até mesmo no banco da igreja, onde não dispomos de papel, caneta ou até mesmo um computador disponível para extravasarmos a criatividade.

Pois hoje ela não me escapou. Acabei de assistir pela terceira vez o filme Divã, filme baseado na obra de Martha Medeiros, que dispensa comentários de tão talentosa. Mas uma parte do filme me chamou mais a atenção: o final. Em sua última sessão de análise com seu psicólogo, a protagonista Mercedes afirma: “Eu nunca vou estar pronta. Tudo o que eu preciso é conviver bem com meu desalinho, minha inconstâncias e com as surpresas que a vida traz”. E não é que a danada tem razão?

O que Martha, através de Mercedes, talvez não saiba, é que ela provocou pequenas catarses aqui dentro. Me faz perceber que nunca terei o controle da vida, mas que em minhas reações diante de suas surpresas, mando eu. Que objetivo e obstinação são completamente opostos. Que o sentido de viver é ter metas, mas não se obstinar em alcançar todas: alguns fracassos são essenciais para o nosso aprendizado. E que, embora nem tudo que é sonhado se realize, a gente faça o melhor que poderia ser.

Posso não ser o filho exemplar que meu pai sempre sonhou, então que eu seja o melhor filho que eu poderia ser. Talvez não seja um marido romântico como dos filmes, mas me esforço para satisfazer o máximo de expectativas que me for possível, tornando-me o melhor marido que eu poderia ser. Não sou o profissional que todos esperam, mas dentro dos meus limites posso transformar o meu trabalho no melhor que poderia ser. Isso não significa ser medíocre, superficial ou pouco esforçado. Quer dizer que sei das minhas limitações e não devo objetivar o meu sucesso baseado nos padrões dos outros.

O bem ou o mal que provocamos, para nós mesmos ou para os outros, certamente voltará. Quem permite conhecer seus próprios limites e realizar suas obras baseadas neles está fazendo bem para si mesmo e este bem voltará de alguma forma. Talvez a felicidade seja o retorno mais tangível, mas se não vier, que sejamos os mais felizes que poderíamos ser.


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