A cada desilusão amorosa a
história é quase sempre a mesma: cuide bem do seu jardim para que as borboletas
venham até você. Por melhores que sejam as intenções dos amigos, esse papo já
não cola mais. Pode até funcionar com uma adolescente que inicia sua vida
sentimental e ainda tem muito a aprender sobre as decepções da vida, mas
comigo, não.
Cuidei até demais do meu jardim
e, modestamente, ele está lindo. Podei os traumas, reguei esperanças, arranquei
as ervas daninhas das mágoas, capinei o canteiro das qualidades para que
ficassem bem visíveis para quem visitasse minha flora. Sei que ainda há muito
trabalho pela frente, mas qualquer pessoa com o mínimo de sensibilidade que
chegar irá parabenizar pelo belíssimo trabalho que fiz.
Meu jardim é vasto e vêm sendo cuidado
desde que me considero importante na vida de alguém, e isso faz muito tempo.
Foi preciso empenho, disciplina e muita paciência para esta obra da qual tanto
me orgulho e, hoje, as placas de não pise
na grama estão por todos os lados. Talhadas por mim nos mais rigorosos
invernos, são lembretes bem visíveis para que os visitantes respeitem os
caminhos onde pisam.
Tenho um orgulho danado dos meus
canteiros e tenho a consciência de quão felizardos são aqueles que deixo
entrar. E são poucos. Embora o terreno seja meu e o trabalho fique por minha
conta, deixo que visitantes tragam sementes e plantem nesta terra boa. Contanto
que haja harmonia com o que já está feito, sou bem permissivo e pouco ciumento
com minhas flores.
Então se, porventura, alguém pise
na minha grama, despedace minhas flores e arranque alguns galhos, a culpa não é
minha de não ter cuidado do meu jardim. Tenho lá minha parcela de
responsabilidade por ter permitido a entrada, mas não venha me recomendar algo
que eu já faço. Amigos, por favor, inventem outra fábula.
Ótimo texto. Muito bem escrito. Parabéns Fred.
ResponderExcluirBeijo!