quarta-feira, 10 de julho de 2013

Não me venham com a fábula do jardim



A cada desilusão amorosa a história é quase sempre a mesma: cuide bem do seu jardim para que as borboletas venham até você. Por melhores que sejam as intenções dos amigos, esse papo já não cola mais. Pode até funcionar com uma adolescente que inicia sua vida sentimental e ainda tem muito a aprender sobre as decepções da vida, mas comigo, não.

Cuidei até demais do meu jardim e, modestamente, ele está lindo. Podei os traumas, reguei esperanças, arranquei as ervas daninhas das mágoas, capinei o canteiro das qualidades para que ficassem bem visíveis para quem visitasse minha flora. Sei que ainda há muito trabalho pela frente, mas qualquer pessoa com o mínimo de sensibilidade que chegar irá parabenizar pelo belíssimo trabalho que fiz.

Meu jardim é vasto e vêm sendo cuidado desde que me considero importante na vida de alguém, e isso faz muito tempo. Foi preciso empenho, disciplina e muita paciência para esta obra da qual tanto me orgulho e, hoje, as placas de não pise na grama estão por todos os lados. Talhadas por mim nos mais rigorosos invernos, são lembretes bem visíveis para que os visitantes respeitem os caminhos onde pisam.

Tenho um orgulho danado dos meus canteiros e tenho a consciência de quão felizardos são aqueles que deixo entrar. E são poucos. Embora o terreno seja meu e o trabalho fique por minha conta, deixo que visitantes tragam sementes e plantem nesta terra boa. Contanto que haja harmonia com o que já está feito, sou bem permissivo e pouco ciumento com minhas flores.

Então se, porventura, alguém pise na minha grama, despedace minhas flores e arranque alguns galhos, a culpa não é minha de não ter cuidado do meu jardim. Tenho lá minha parcela de responsabilidade por ter permitido a entrada, mas não venha me recomendar algo que eu já faço. Amigos, por favor, inventem outra fábula.

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