Certa vez vi uma entrevista que
Clarice Lispector concedeu na década de 70 em que dizia sobre seus hiatos
criativos, explicando o porquê de passar tempos sem produzir textos e outros
onde escrevia com voracidade. Sempre séria, foi categórica: Eu não sou profissional, só escrevo quando
quero. Sempre fui amadora e faço questão de continuar sendo amadora. Duas frases que
caíram como uma bigorna na minha cabeça.
O mercado está ávido de bons
profissionais. Anúncios de jornais, comerciais de universidades, cursos e
workshops esfregam na sua cara que não basta ser apenas bom no que faz: você
precisa ser o melhor. Enxertam na cabeça dos jovens uma série de fórmulas e
teorias como fórmula do sucesso, criando a ilusão da realização plena por meio
delas. De certo, não me refiro às ciências exatas e médicas. São anos de
pesquisas para se chegar a um resultado. Mas em todas as outras, é mais que necessário
que sejamos amadores.
Na etimologia da palavra, amador
faz com amor. E todo amor vem repleto de dedicação e boa vontade, que são, para
mim, a verdadeira fórmula do sucesso. Quer ser bem sucedido em qualquer área da
vida? Use da dedicação e boa vontade. Verdadeiras amizades pedem,
relacionamentos duradouros exigem e auto realização clama para que sejamos
amadores. Sem obrigações excessivas, sem muitas cobranças, sem martírios,
apenas fazendo com amor e responsabilidade.
Ao contrário dos bons
profissionais, que começam cedo, os amadores não têm idade pra começar. Pode
ser aos 15, aos 25 ou até mesmo aos 70, qualquer um é amador em alguma coisa,
só falta investimento de tempo, dedicação e boa vontade. E não precisa ser o
melhor desde sempre: amadores vão se lapidando com o tempo, assim como Clarice.
Confesso que ainda preciso de
mais abstração para absorver a profundidade da obra de Clarice, mas apenas
vendo esta entrevista percebi que ela não só nos choca com o explícito, mas nos
faz refletir com o implícito. Amadoramente profissional, ela nos ensina através
do próprio exemplo que realização pouco tem a ver com as técnicas que você
aprendeu, mas sim o amor com o qual você as aperfeiçoou.
Exatamente assim como eu me sinto em relação ao blog!
ResponderExcluirMais uma vez, um belíssimo texto!
Bjo