Vez
em sempre me surpreendo como pequenas coisas podem me causar tanta
tormenta. Pequenos gestos com grandes significados, pequenas frases
com tanto o que dizer, pequenos silêncios que dizem mais que tantos
livros. A última da vez foi uma frase atribuída a Jorge Bohaczuk,
que diz: “O fim e o começo são semelhantes”. Ela vinha
acompanhada de uma imagem que mostrava uma senhora bem idosa e uma
criança de meses de idade, ambos apoiados em um andador.
O
fim e o começo são semelhantes. O óbvio passa a ser tão comum e a
gente nem percebe. Àqueles que é dada uma vida longa percebem isso
com mais clareza. A pele fina, a falta dos dentes, a notável
dificuldade de andar ou se equilibrar, a dependência de outros para
fazer as coisas simples que um adulto realiza no modo automático. E
sempre um impaciente para criticar as “artes” como se fossem
intencionais, por crueldade. Origem e destino nunca foram tão
próximos.
O
fim e o começo são semelhantes. Quem viveu mais de um
relacionamento amoroso pode ter visto isso sem perceber. Os
silêncios são longos, as palavras faltam, a sensação de que algo
vai mudar nossas vidas muito em breve e aquela vontade de dizer o que
sente só aguardando uma ocasião oportuna. Em ambos o passado não
importa, o presente parece nunca ter fim e tudo o que se quer é
chegar logo num futuro. Com ou sem o outro. Guardadas as devidas
proporções, são bem parecidos.
O
fim e o começo são semelhantes. Você começa um trabalho sem saber
se vai dar conta do serviço e, quando quer sair, às vezes tem a
mesma dúvida. O período de experiência, o aviso prévio. Perguntas
como “por quê você quer trabalhar nesta empresa?” mudam de
sentido quando, em vez de trabalhar, a palavra da vez é “sair”.
Erros bobos por desconhecimento. Erros bobos por descontentamento.
Papeladas, burocracias e uma vontade de evoluir. Neste caso, também
são semelhantes.
O
fim e o começo são semelhantes. Mas é que a gente está tão
anestesiado de informações, rotinas e agendas durante os meios, que
a gente só para pra pensar nos começos e nos fins. E essa cegueira
é mesmo uma injustiça, pois a graça da coisa está justamente onde
não percebemos. Fins e começos são bem semelhantes, mas não
iguais e nem sempre conseguimos enxergar que estamos numa montanha
russa: altos, baixos, loopings, e a única certeza que temos é que,
quase sempre, a porta de saída está ao lado da de entrada.
Olá. Boa tarde!
ResponderExcluirEscreveu um ótimo texto. Meu nome é Jorge Bohaczuk. Postei a frase que você tão brilhantemente comentou neste artigo, em meu Facabook. Foi numa foto de uma Senhora idosa e uma criança. Não lembro o ano, mas fico imensamente grato por mencionar meu nome!
Abraços!