Até
os 10 a gente aprende. Experimenta, explora, questiona e se conecta
ao lugar onde a gente nasceu. E este lugar nada tem a ver com
localização, mas com o nosso lugar no mundo. Quem sou eu? Quem são
essas pessoas que sempre estão comigo? Qual é o sabor disso? E se
eu pular daqui? E é aí que conhecemos o limite, a mínima noção
do que posso e do que não posso.
Até
os 20 a gente culpa. Culpa os hormônios que mudam nosso corpo de uma
forma que a gente não pediu. Culpa nossos pais que não entendem as
nossas necessidades e nos privam de muitas coisas que os pais dos
nossos amigos permitem. Culpa as espinhas, a falta de liberdade, as
pressões do vestibular e do mercado de trabalho. A gente se culpa
pelo primeiro amor que não deu certo, pelo primeiro porre, pela
primeira briga de amor, pelas primeiras dívidas.
Até
os 30 a gente se estabelece. É tempo de estreitar os laços feitos
que ainda existem e criar outros que podem perdurar pelo resto de
nossas vidas. A gente se descobre profissionalmente, adquire
maturidade e serenidade para se posicionar em praticamente todas as
áreas de nossas vidas: pessoal, profissional, familiar, amorosa e
agora também a espiritual. Embora a cobrança seja ainda maior que
na adolescência a gente tem a consciência dos nossos objetivos e
que as expectativas que os outros criam sobre a gente é de
responsabilidade somente deles – e eles que lidem com isso. A gente
ainda culpa, mas culpa os dias que ficam mais curtos perto de tanta
coisa a fazer.
Ainda
estou longe dos 40 e não ouso prever como será o caminho até lá,
mas me atrevo a acreditar que seja a fase que a gente se perdoa. Já
não há mais lugar para culpas em nossos pensamentos e, quando ela
surge, são enfrentadas de forma bem racionais. Faz o melhor que pode
com o que tem e, com o que não tem, entende que não há o que
fazer. Dúvidas vão surgir durante toda a vida, mas a essa altura a
gente já se conhece o suficiente para encarar de frente.
Claro
que tudo que escrevi até agora são minhas verdades e cada um que
crie e viva a sua. É que num momento em que tantos que com idade
próximas a minha estão buscando se conhecer, se culpar ou se
estabelecer, hoje eu só quero me perdoar. Te perdoar. Nos perdoar.
Porque sem perdão só o que resta é peso e não nasci pra afundar.
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