domingo, 17 de julho de 2016

CICATRIZES



Fui questionado por um amigo sobre qual o meu maior medo. Muitos tem a resposta pronta e é quase unânime que a morte é o maior medo do ser humano, mas não vejo esse terror todo na passagem. Tempos atrás também escrevi aqui sobre legados e acho que meu maior medo vem disso. Tenho pavor de deixar maus legados na vida das pessoas. Talvez por isso eu tenda a resolver conflitos em vez de remoer problemas por orgulho.

É inevitável: cada pessoa que passar por nossa vida vai deixar uma marca - boa ou ruim. Um amigo de infância, um ex chefe, um parente, um líder espiritual - para os que creem -, e até mesmo um amor. Elas chegam, ocupam seu lugar de importância que nós as permitimos ficar e mesmo sem saber fazem alguma diferença na nossa forma de viver, pensar e enxergar as coisas. Algumas ficam dias, outras meses, outras anos e outras nos acompanham até o fim dos nossos dias. E deixam marcas.

Pelo que dizem e fazem, elas são responsáveis pelas marcas que nos deixam, mas depois de feitas, cabe a nós saber o que fazer com isso. Se foi bom, deixam saudades, se foi ruim, deixam feridas. Saudade sem remorso é até bom sentir, mas o problema é quando não sabemos lidar com as feridas. Muitos as deixam abertas, escancaradas, para que todos os que chegarem olhem para ela e se compadeçam da dor. Outros dão tudo de si para que a ferida se feche, mas quanto mais se mexe, mais tempo demora a cicatrização. Às vezes é necessário descanso para que a terra floresça.

Mas o terceiro tipo de pessoa costuma viver com um pouco a mais de paz: aquelas que transformam feridas em cicatrizes. Elas entendem que tudo que passa em nossas vidas deixam marcas, mas que estas não necessariamente lhe trarão dor. Cicatrizes não costumam doer. Elas estão lá para nos lembrarmos de como nos machucamos e apenas isso. E o tempo para uma ferida virar cicatriz pode variar de quanto a gente permite que essa ferida se cure.

Um chefe ruim não pode nos traumatizar de futuros superiores. Um amigo que traiu sua confiança não pode fazer você se fechar para os novos. Um amor ruim não pode te blindar para novos relacionamentos. São novas situações, novas pessoas e você, pelas cicatrizes que carrega, saberá lidar com tudo isso. Um acidente de carro não deve fazer você parar de dirigir. Pois do ponto A ao ponto B existe um caminho que você só vai saber como é se o percorrer.

Nenhum comentário:

Postar um comentário