Fui questionado por um amigo sobre
qual o meu maior medo. Muitos tem a resposta pronta e é quase unânime que a
morte é o maior medo do ser humano, mas não vejo esse terror todo na passagem. Tempos atrás também
escrevi aqui sobre legados e acho que meu maior medo vem disso. Tenho pavor de
deixar maus legados na vida das pessoas. Talvez por isso eu tenda a resolver
conflitos em vez de remoer problemas por orgulho.
É inevitável: cada pessoa que
passar por nossa vida vai deixar uma marca - boa ou ruim. Um amigo de infância,
um ex chefe, um parente, um líder espiritual - para os que creem -, e até mesmo
um amor. Elas chegam, ocupam seu lugar de importância que nós as permitimos
ficar e mesmo sem saber fazem alguma diferença na nossa forma de viver, pensar
e enxergar as coisas. Algumas ficam dias, outras meses, outras anos e outras
nos acompanham até o fim dos nossos dias. E deixam marcas.
Pelo que dizem e fazem, elas são
responsáveis pelas marcas que nos deixam, mas depois de feitas, cabe a nós
saber o que fazer com isso. Se foi bom, deixam saudades, se foi ruim, deixam
feridas. Saudade sem remorso é até bom sentir, mas o problema é quando não
sabemos lidar com as feridas. Muitos as deixam abertas, escancaradas, para que
todos os que chegarem olhem para ela e se compadeçam da dor. Outros dão tudo de
si para que a ferida se feche, mas quanto mais se mexe, mais tempo demora a
cicatrização. Às vezes é necessário descanso para que a terra floresça.
Mas o terceiro tipo de pessoa
costuma viver com um pouco a mais de paz: aquelas que transformam feridas em
cicatrizes. Elas entendem que tudo que passa em nossas vidas deixam marcas, mas
que estas não necessariamente lhe trarão dor. Cicatrizes não costumam doer.
Elas estão lá para nos lembrarmos de como nos machucamos e apenas isso. E o
tempo para uma ferida virar cicatriz pode variar de quanto a gente permite que
essa ferida se cure.
Um chefe ruim não pode nos
traumatizar de futuros superiores. Um amigo que traiu sua confiança não pode
fazer você se fechar para os novos. Um amor ruim não pode te blindar para novos
relacionamentos. São novas situações, novas pessoas e você, pelas cicatrizes
que carrega, saberá lidar com tudo isso. Um acidente de carro não deve fazer
você parar de dirigir. Pois do ponto A ao ponto B existe um caminho que você só
vai saber como é se o percorrer.
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