quarta-feira, 2 de julho de 2014

Falta Eu


Tem dias que a gente acorda e sente falta de algo. Levanta, toma banho, se arruma, prepara o café, tranca a porta e vai para o trabalho com aquela sensação de que alguma coisa não está lá. Será que esqueci o gás ligado? Será que tranquei direito a porta? Coloquei comida para o cachorro? Tem dias que realmente falta algo, mas tem dias que falta Eu.

Falta eu quando não me reconheço nos lugares que eu sempre ia e me sentia à vontade. Falta Eu quando esqueço a senha do banco porque me perdi em pensamentos. Falta Eu quando aquela conversa com grandes amigos fica rasa, sem conteúdo, sem entrega. Falta Eu na tomada de decisões importantes para o futuro. Falta Eu nas tarefas que faço automaticamente e dedico tempo, e não amor, ao que estou fazendo.

Perder a chave de casa é desesperante. Perder o celular na balada ninguém gosta. Perder tempo em congestionamento é de matar qualquer um de ódio. O problema é quando a gente perde a essência. Os elementos de identificação com o passado passam a não fazer mais sentido e não existem referências para criar conexões com um futuro. É como acordar numa banheira de gelo após um Boa Noite Cinderela. Onde estou? Como vim parar aqui? Alguém me ajuda? Alguém?

 Ninguém. A gente sente a necessidade de alguém para tanta coisa, mas esquece que nas mais vitais a gente não precisa de ninguém. Pensar, respirar, dormir, acordar, estudar e uma série de outras coisas são tão pessoais que me assusta ouvir de alguém dizendo que precisa de alguém para viver. Depender é se autodeclarar incapaz. E é nessa dependência que muita gente se perde e não se acha.

Se encontrar é tarefa individual e, no meu caso, só se torna coletiva quando tenho companheiros de viagem. Em outra cidade eu me viro. Em outro estado, me renovo. Em outro país eu me acho. Viagens para mim são muito mais que experiências culturais e fotográficas. Viagens são jornadas em busca de nós mesmos, que nos perdemos no estresse do dia-a-dia, da falta de tempo e da escassez de elementos favoráveis para a composição do eu.


 Aí, sim, tem Eu em abundância.

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